O aprendizado de uma amizade
Quando a arte une duas pessoas em busca do conhecimento infindável, que está em eterna reformulação, um homem com uma vasta vivência adquire a sabedoria por meio do sofrimento e do retorno positivo que suas experiências lhe trazem. Enquanto aquele que ensaia seus primeiros passos no mundo devastador do aprendizado, que só dá recompensas mediante muito esforço, sente a necessidade dos conselhos de alguém mais experiente para lhe guiar durante o tortuoso caminho das pedras. Assim, o mais velho segue ensinando o mais novo a ter sapiência e destreza para colher os frutos maduros na hora certa. Ambos representam similaridade de essencias, por almejarem o mesmo ideal.
O primeiro deve tudo o que sabe ao mundo, ao tempo e as pessoas que conheceu, algumas que já partiram, outras que viajaram para longe, mas que deixaram nele várias marcas talhadas na memória. Das privações, do crescimento, da consciência que a carga dos seus atos lhe trouxeram e que lhe edificaram em um monumento do saber e da maestria em ensinar, em exalar boa vontade e empatia com aqueles que passam pela mesma estrada que ele cruzou a anos.
O segundo, que por vezes buscou na ciência a resposta para os enigmas da mente humana, e que foi capaz de representá-los com perfeição através do elo perdido que une a fé e o conhecimento: a arte. Passeou por entre técnicas abstratas, com cores e matizes vibrantes, provocando reações diversas de estranhamento, reconhecimento, e analogias psicológicas naqueles que apreciavam e decifravam as suas telas. Passou também por tormentas, por perdas e por cobranças que influenciaram sua reação para com as coisas a sua volta e na sua postura perante a vida. Assim, ele foi desenvolvendo a delicadeza da sua sensibilidade e a apurando a sua técnica.
Por tantas identificações, foi inevitável o surgimento da amizade entre os dois, pois um se via sendo o reflexo perfeito do outro em tempos passados. Enquanto o outro imaginava o seu futuro através das visões proféticas daquele que enxergava o seu talento e a sua capacidade de alcançar e ganhar o mundo. Daí veio a necessidade quase paterna do mais velho de mostrar o melhor caminho para o aprendiz e artista nato que desabrochava em um jovem rapaz, tal qual ele fora um dia. E na mais pura manifestação da inteligência e da sensibilidade humana, os dois aprenderam juntos, numa longa caminhada, que o conhecimento é infinito e que é preciso ter a mente aberta para aprender a buscá-lo e, só assim, concretizar os planos antes idealizados.