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         CAPIAUZADA!





“Barrados no baile,oh...oh...oh...//Só viviam dando detalhes...”

Assim canta Eduardo Duzeck,na rádio que agora ouço.Enquanto cantarolo o alegre refrão,a memória faz-me retroceder no tempo e,então...
Dezembro,1963.Alguns amigos e eu,havíamos concluído a quarta série do curso primário e estávamos às vésperas de prestar o exame de admissão ao ginásio.(Jurássicos,feito este que agora escreve,certamente irão relembrar daquele livro com aproximadamente 500 páginas que devorava-se por conta de uma vaga no Vicentão).Estávamos nos despedindo de um espaço que , bem mais que uma escola, representava a extensão dos lares em que habitávamos.
Incrustada na mata,a “Escola primária do Posto Agro Pecuário de Irati” era,sem dúvida,um recanto mágico.O longo trajeto que percorria-se até  sua chegada ,fazia-se por estradinhas de chão ladeadas de amoreiras costumeiramente fartas em suas cachadas.

Na escola,um gigantesco pomar ,onde as mais deliciosas mimosas de que já provei ofereciam-se em cores e abundância.
Um campinho de futebol aos fundos e “dona Diva”,a professora ,que por gostar da modalidade esportiva era goleira de um dos times.Em tardes de maior empolgação,costumava –se estender o recreio até o horário da saída.Então,entre uma mimosa e outra ,a “festança” corria animada.
Ao deixarmos a escola,em reunião,uma série de recomendações nos foi dada por conta do novo ambiente que iríamos encontrar.Entre os muitos tópicos,a mestra falou-nos de uma tal sineta que anunciaria o início e o fim das aulas.
Devidamente orientados,tomamos os rumos da 24 de maio ,(endereço do “Vicentão” )e,frustrada a primeira tentativa,só em fevereiro/64 ,aprovados em exame de segunda época ,garantimos o ingresso ao sonhado “ Farol Amarelo”.

Expectativas vencidas,chegara o primeiro dia de aula.
Um ambiente totalmente novo à meia dúzia de amigos vindos dos fundões do antigo Fomento de Irati.
Toca a sineta .Juntos à multidão de novatos , somos introduzidos às salas respectivas.
Tudo novo,tudo muito diferente do nosso local de origem.
Inicia-se a aula.
O professor apresenta-se,fala de suas metas,do material que deve ser adquirido,etc...etc...
Decorridos uns 45 minutos,toca a sineta.Êste despede-se e sai da sala.Com retinas faíscantes ,entreolhamo-nos , apanhamos nossas maletas e ,porta à fora,ganhamos os espaços escuros daqueles corredores imensos.
Havia muita agitação nas salas por onde passávamos.Íamos cruzando pelo caminho com padres e professores ,apressados,sisudos,estressados...Todos vindos em sentido contrário.
_Que coisa!...Ninguém,além de nós ,parece querer ir pra casa? Proferi com entusiasmo.
_Maravilha esse tal de ginásio!  As aulas terminam num instante.Isso que é vida! Argumentou um dos amigos.
E assim,nestas confabulações,atingimos a porta pela qual havíamos adentrado.Esta...
[Devidamente F E C H A D A]
Tomamos outra rota de saída por onde,inevitavelmente, passaríamos pela secretaria.
Eufóricos saltitantes,fomos devidamente “grampeados” pelo casal de secretários .O cavalheiro,num tom muito amistoso.A dama ,nem tanto. Embuídos de seus poderes (E bota  poderes  nisso!), nos reintroduziram ao “amargo retorno”.
Cabisbaixos,com  caras  de  cachorros caídos  de  caminhões  d e mudanças e ao som de sonora vaia adentramos à sala respectiva.
Então,fomos saber que saída,( a verdadeira , rsrs...) só ocorria ao final da quarta aula e,como havíamos sido orientados,”assim que tocasse a sineta”.
No primeiro encontro que mantivemos com dona Diva,logo após o ocorrido,fomos inquiridos sobre o novo estabelecimento de ensino.O mico do primeiro dia ,evidentemente,veio à tona.
Ela,que nos ouvia com  atenção,esboçou um sorriso amarelo marcela (desbotado e quaresmento) dizendo-nos:
”Calma,com o tempo tudo se aprende,meninos!”.
Hoje,mais do que nunca, entendo a frase de uma famosa cronista iratiense (Cláudia Wasilewski).
Atrás daquele sorriso,nossa querida professora certamente estava pensando nela:
_Isso!...Capiauzada.
(Me mata de vergonha quem deveria  me  encher d ´orgulho)