Fim de dia
Gosto de andar pelas ruas quando o comercio está fechando. Vendedores com rostos tristes, pensando nas suadas comissões de fim de mês. Funcionários varrendo as lojas atoladas de embalagens. Lixo nas ruas, nos bueiros, nos sacos, em qualquer lugar. Estabelecimentos abertos até tarde demais, mesmo quando faturam uma fortuna durante o dia todo. Amantes esperando nas ruas, namoradas ao celular, mendigos no meio fio, menores em bancos de praça. Um vendedor de pipoca, um restaurante que serve janta, postos de gasolina, que não servem nada.
Carros aos montes retornam para suas casas. Motoristas fatigados, sem trocar palavra com quem está no banco de carona, com quem está esperando em casa, com quem telefona, com quem para no farol, com quem quer que seja. Alguns até que levam pessoas sorridentes, felizes pelo dia sem compromisso. Trabalhadores formados pelas mesadas gordas de seus pais, pela vasta responsabilidade de suas longas férias. Motores roncando, rodas cantando no asfalto, pessoas sérias cantando em seus confortáveis assentos de couro.
Muitas pessoas caminham com seus cães, as crianças estão em casa, vendo TV, descobrindo o mundo nas telas de vidro, de Led, de plasma. Pessoas caminham com seus cães, ainda não inventaram uma TV só pra canídeos, penso eu.
No fundo, a noite revela a solidão das pessoas. Fecham as lojas, quando na verdade se fecham para o mundo. Andam em seus carros na maior velocidade, fugindo de si próprios. Passeiam com seus cães, pois não precisam conversar com eles.
As lojas fecham.