A IMPORTÂNCIA DA INSTRUÇÃO
 
Muita gente confunde a instrução com educação. É bem verdade que ambas se completam, porém, são distintas entre si. Costumo dizer que a educação é aquela recebida dos nossos pais, para reafirmar o que digo vejamos o que diz o manual léxico: Educação: “s. f. Conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito”. Já a Instrução vejamos o que diz o mesmo manual: Instrução: “s. f. Conjunto de conhecimentos adquiridos na escola. = Alfabetização, Escolarização”. Em casa aprendemos a educação e na escola a instrução.
Meus primeiros passos na vida fui instruído na Escola Industrial Salesiana, tive o imenso privilégio de ser aluno dos padres salesianos. Lá não havia piedade, “o couro comia no lombo dos que tentasse levar vantagem”. E olha que menino criado sem pai é difícil, na minha turma havia de tudo. Do Roosevelt que pescava as doações da santa, na igreja anexa à escola, dos que comiam a hóstia ainda não consagrada, dos que gostavam de derrubar os colegas na hora do recreio, dos que agrediam os afeminados, dos que jogavam bola no pátio contra a ordem da diretoria. Era raro o dia que não havia um “engraçado” com os braços abertos na secretaria imitando um avião por trás da porta.
Nas sextas feiras, havia uma tal de sabatina, duas filas se formavam e a palmatória corria solta, perguntou a tabuada, não respondeu, peia. Eu odiava a professora Jucy por sua rigidez, uma negra que andava com uma vara de madeira-de-lei e amava dar uma pancada nas laterais dos nossos braços. Mas por outro lado havia a professora Núbia Cruz, um doce de pessoa, claro que linda, quase todos eram apaixonados por ela.
Todos os dias o sino tocava, formavam várias filas, antes pegávamos uma senhora “mijada”. Rezávamos uma ave-maria e um pai nosso. Depois éramos autorizados a subir às escadas, mas na passagem pelo conselheiro Mário Nascimento, eram pegos os desarrumados, camisa tinha que ser branquinha da silva, cabelo penteado, sapatos brilhando. Qualquer aparência estranha era sacado para uma melhor conferência. Se fosse pego, além da vergonha e penitência na secretaria o incauto levava um bilhete para mãe e no dia seguinte deveria trazer as explicações para sua falta de zelo com a própria pessoa.
Daquela escola saiu de tudo, no bom sentido: militares, professores, engenheiros, advogados, juízes, auditores, políticos respeitados, contadores, jornalistas, empresários, economistas, excelentes profissionais.
A direção da escola, nessa época sob as mãos do padre Schiip, que buscava oferecer tudo ao aluno, todas as condições para que pudesse aprender os bons caminhos na vida. Ofereciam jogos, integração social, bons costumes e no mesmo momento cobravam tudo. A professora Jucy por muitos anos me fez lembrar dos seus ensinamentos, o conselheiro Mário que sempre tinha algo para dizer, um exímio observador do comportamento humano. Lá não existia filho desse ou daquele figurão, “pisou na bola” estava suspenso, e pouca ou quase nenhuma questão faziam em ter em seus quadros de alunos, um mau caráter.
Ali aprendi muito para minha vida, instrução era o que não faltava, o complemento daquilo que você aprendia em casa podia aplicar ali, mas também o inverso era verdadeiro.
Na sociologia aprendemos que o homem influencia no meio, assim como, o meio no homem. O ambiente escolar é primordial para instruir o futuro cidadão, lhe incutindo os bons costumes, contribuindo diretamente para a formação do caráter daquele membro da sociedade. Do viver em grupo, respeitar o direito do outro etc. Há um estudo sobre o comportamento humano que define na maioria absoluta dos maus-elementos como a ausência de instrução, aqueles que por algum problema social foi entregue a própria sorte, viveu que nem dizia minha velha mãe, “como batata que dá no chão”. Queria ela dizer que viver ao léu, é perigoso, porque o sujeito adquire a faculdade de impor ao outro sempre as suas vontades, o que interessa para ele é a sua vida, a do outro vem em último plano.
Na instrução, aprendemos as primeiras noções de direito. Porque somos ensinados com isenção, sem a emoção e tão somente pela razão. Com a instrução aprendemos que assim como nós o outro tem direitos e, portanto, devem ser respeitados.
Filhos educados e bem instruídos, sociedade sadia, daí o maior respeito para as primeiras professoras, as alfabetizadoras, aquelas que nem a minha Jucy, que com a vara até hoje me faz lembrar da sua grande importância na instrução da minha vida.