PAPA É GENTE COMO A GENTE
Discorrer sobre determinados assuntos torna-se, muitas vezes, difícil na medida que exigem conhecimento mais profundo e geram polêmicas, porque a intenção do autor pode não ser compreendida e o leitor tem suas convicções próprias. Isso é normal e, por um lado, é bom porque a diversidade dá margem à novas idéias, novos conceitos e até abala preconceitos.
Nasci numa família católica e no Catolicismo vivi até a juventude quando, premida por questionamentos, na busca de respostas que me embasassem a fé, percorri vários caminhos e hoje sou simplesmente espiritualista universalista, sem me atrelar a nenhuma religião.
Lembro perfeitamente do Papa João XXIII durante toda a minha infância. Vivi parte da adolescência e praticamente a juventude vendo a Igreja Católica ser conduzida por Paulo VI e esse talvez tenha sido o Papa que mais se fixou em minhas lembranças. Uma época em que os dogmas católicos eram seguidos à risca e os papas eram quase uns semi-deuses. A gente simplesmente ajoelhava e rezava. João Paulo I chamou minha atenção pelo fato de assumir o pontificado apenas um mês e, assim como em muita gente, ficaram dúvidas em mim com relação a sua morte. Era um Papa transformador dentro de uma Instituição retrógrada e isso incomodou o conservadorismo da Igreja. João Paulo II talvez tenha sido o mais popular, pois saiu dos muros do Vaticano e ganhou o mundo, apesar de não reformular conceitos milenares. Todos levaram sua missão até o fim da vida e, na minha concepção, firmou-se a ideia que o Papado era vitalício e jamais um representante de S.Pedro abandonaria o barco, embora a história mais antiga registre casos de renúncias.
Agora o Papa Bento XVI, quebrando barreiras, anuncia que vai deixar o cargo. Os tempos são outros e a modernidade, como um tsunami, está levando de roldão até as estruturas mais sólidas. Vejo na decisão do Papa uma atitude saudável, um gesto que demonstra humildade, que mostra que um Papa é gente como a gente e, como tal, não é aquela fortaleza inviolável que por séculos tentaram nos fazer crer. Aplausos a Bento XVI por sua atitude corajosa que, com certeza, trará novos ares à Igreja e, possivelmente, ventilar os porões do Vaticano, deixando de lado conceitos arraigados e tão de desacordo com o avanço social, científico e tecnológico.