A LIÇÃO DA IMPERMANÊNCIA

Costumo repetir para mim mesma, que a única coisa permanente, em nossa vida, é a impermanência. Nos fatos mais corriqueiros, até nos mais importantes, observamos a presença dela.
Outro dia pensava que desde minha infância, sempre tivemos cães em nossa casa, mas eles sempre foram femêas e não machos.
Talvez tenha sido por puro acaso, não sei dizer. Mas, já casada sempre optei pelas cachorras, achava-as mais carinhosas, menos ativas.
Até há dois anos atrás, quem nos fazia companhia, era a Maui, cuja foto ilustra essa crônica, e sua filha a Kauai.
Olhando a foto, percebo as mudanças, a Maui a morte levou, o sofá em que ela está deitada, quem levou foi o jardineiro, somente o caminho de crochê, colocado no sofá, feito pelas mãos de minha vó Carmela, ainda existe.
A impermanência chegou transformando a permanência do nosso convívio de treze anos com a Maui e onze com a Kauai. Em apenas quatro exatos meses, ambas adoeceram gravemente e partiram. Kauai, no dia 26  de dezembro, e Maui em 26 de abril.
No início do luto que meu coração viveu pela ausência dessas inesquecíveis amigas de quatro patas, pensei em não mais ter um cão. Mas, isso foi só no início, pois tenho muito carinho pelos animais, e não consigo manter-me longe deles.
Depois de um tempo bem curto, a falta da alegria de um cão correndo pela casa, me venceu, e logo pensei em uma cachorra. Mas, eis que a vida se encarrega de alargar nossas limitadas escolhas. 
Um domingo, minha filha aparece com um lindo, cãozinho viralata, que fora achado debaixo de um viaduto. Ele não tinha ainda completado dois meses. Peguei-o no colo, e aqueles dois olhos, olharam diretamente nos meus. Não demorou e o Marley, veio morar conosco, e se tornou um fiel e doce companheiro.
Passado alguns meses, minha filha escolheu presentear-me, pela data do meu aniversário, e de surpresa levou-me até o canil onde há quinze anos atrás, foramos buscar a Maui. No caminho quando percebi onde estávamos indo, resisti a ideia, e pedi, para voltar. Porém, lá chegando, deitei meus olhos sobre uma linda ninhada de quatro fêmeas e dois machos, e me apaixonei imediatamente por todos. E como definitivamente não conseguia me decidir por um em especial, minha filha decidiu por mim. E saímos de lá com um lindo cachorro, ao qual demos o nome de Moke.
E assim, hoje, ao invés de duas cachorras, temos dois cachorros.
Eles tem me mostrando que são tão dóceis, quanto elas, nunca brigam um com o outro, comem e bebem na mesma vasilha. O Marley recebeu o Moke, com muito amor, e hoje, onde um está o outro está também, são literalmente a sombra um do outro.
Observo que a perda de minhas amigas caninas, deu-me a oportunidade de experimentar uma nova experiência, que me tem sido muito gratificante. Por esse fato e tantos outros de MAIOR MONTA, venho me moldando e sendo cada dia mais flexível, e menos rígida a ideia de mudanças, sejam elas quais forem.
Hoje tenho consciência de que as impermanências não existem como um castigo, ou injustiça Divina, muito pelo contrário, elas são grandes aliadas, em nos fazer ganhar habilidades que nos faltam, se elas não houvessem, seríamos muito mais engessados do que na verdade ainda somos. 
Quanto mais interiorizo o conceito de que a única coisa permanente na vida é a impermanência, vivo  melhor e com menos apego, aos objetos, animais, lugares e mesmo as pessoas a quem amo. 
Realmente a mente do Criador é sábia, pois se tudo fosse permanente, imagino a grande mesmice que seria a vida. E como seríamos mais orgulhosos e possessivos do que de fato já somos. Por isso, o melhor é observar e aprender com as Leis Naturais da vida, que nos mostram que as mudanças são absolutamente necessárias em nosso processo de crescimento.

(Foto da autora: Maui com um ano de idade)

Lenapena
Enviado por Lenapena em 17/02/2013
Reeditado em 17/02/2013
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