Uma barata me escapou.
Estava na área de serviço quando vi uma barata tonta subindo pela parede. Daquelas bem grandes. Nunca deixo uma barata escapar. Peguei o chinelo e quando me preparo para esmagá-la: plof! A nojenta cai dentro do balde onde está de molho minha camisa branca. Não posso deixar que minha mulher veja isso. Seria muito desgosto pra ela. Posso imaginar sua cara de horror. Acho que ela ia surtar. Fico olhando pra ela (a barata). Observando, pensando o que fazer. Nada pra lá e pra cá, tenta subir pela borda e cai. Tenta de novo e cai. Depois afunda e desaparece. Afogou-se? Decido esperar, enquanto faço outras coisas. Atrasar o relógio, afinal está terminando o horário de verão. Aliás, essa tarefa aparentemente simples é muito chata. Tenho que mexer em 2 celulares, no despertador, no relógio de parede. Ah! O reloginho do computador. Enfim tudo atrasado em 1 hora.
Se a barata pensa que esqueci dela está enganada. Volto lá. Mas como tirá-la de lá? Podia enfiar a mão e tatear entre as espumas e a camisa até encontrá-la. Descartei essa ideia. Nunca pego uma barata com a mão, uso um guardanapo de papel. A danada é nojenta demais. Gosto mesmo é de exterminá-la. Mesmo que a parede ou o piso fique borrado. Eu limpo, não tem problema. Mas como resolvi a questão? Simples. Despejei tudo no tanque e procurei-a com os olhos. Cadê a famigerada? Sumiu. Acreditem. A miserável me enganou direitinho. Fiquei louco de raiva. Procurei ao redor e nada.
Esse episódio acabou me suscitando algumas reflexões, enquanto me sentava frente ao computador. Concluí que a barata gosta mesmo de mulher. Odeia os homens. Por que? Ora, mulher quando vê uma delas se assusta, sai correndo, ou grita. Se tem um homem por perto mandam (ordenam) que a matem. Jamais pediria socorro a outra mulher. Elas odeiam os homens (refiro-me as baratas). Podemos considerar, portanto, que elas preferem a presença das mulheres e distância dos homens. Eu por exemplo não sossego enquanto não consigo trucidá-las. Com exceção desta que mencionei. Que me fez de bobo. Passarei vários dias pensando nela. Quem sabe amanhã a encontro por lá?
Para concluir, temos que admitir que, ao passo que ela (a mulher) odeia as baratas, estas as adoram. Sentimentos antagônicos. Quanto ao homem a situação se iguala, pois odeiam tanto a elas, quanto elas em relação a eles. Será que fui claro? Homem que é homem tem que matá-la, seja onde, quando ou como for. Mas homem macho, porque as franguinhas também correm delas. Às vezes fazem mais estardalhaço que as mulheres. Durma-se com esse barulho! Bom, mas aí já é outra história...
Edir Araujo é poeta e escritor independente. Autor dos livros
A Passagem dos Cometas, A Boneca de Pano, Risos e Lágrimas, Amante das Trevas, Fulana (inédito), etc. E muitas crônicas, poemas, resenhas, etc.