O divorciado
e a comunhão
Tenho um amigo que está no terceiro casamento.
Com a primeira mulher, quebrou a cara, e se divorciou; com a segunda, muito ciumenta, quase foi crucificado vivo, e, em tempo, caiu fora; com a terceira mulher, deu certo.
Com Isaura, ele vive há mais de vinte anos. E desse casamento nasceram Junior e Mara. Os quatro são felicíssimos.
Na sua casa, Renato mantém, permanentemente acesa, uma vela sete-dias acesa, nos pés de Santa Rita de Cássia.
Soube, que antes de dormir, Isaura e Renato procuram a santa, e, através dela, agradecem a Deus pela união que os faz as pessoas mais felizes do mundo.
Egresso do seminário, Renato não perde a missa do domingo. Isaura, que no início do casamento pouco ia à igreja, agora acompanha o marido, reza bastante, e ainda ajuda o vigário na arrecadação de mantimentos para a creche da paróquia.
Os dois filhos freqüentam a igreja, mas não com a regularidade esperada. Carregam, porém, no pescoço, ela uma pequena Medalha Milagrosa, e ele um Tau, a letra preferida de Francisco de Assis.
Ainda não os vi comungando, mas, com certeza, fizeram a Primeira Comunhão.
Renato e Isaura formariam, para a Igreja do papa Bento, sem tirar nem pôr, um casal cristão exemplar.
Juro, se necessário com a mão na Bíblia, que estou falando a verdade. Nada daquela de que "o escritor é, em princípio, um mentiroso", espirituosa gozação partida do inigualável Ariano Suassuna, em entrevista que tive o prazer de acompanhar, em um determinado canal de televisão.
*** *** ***
Ontem à noite, o Renato me telefonou.
Acabara de ler a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, do papa Bento XVI, e entrara em pânico. Revelou-me, quase soluçando, que como divorciado "comungante", se sentia arrasado. E perguntou: "Será que todas as minhas comunhões foram sacrílegas?"
Eu, que ainda não tinha lido nem o resumo do Documento papal, pedi ao desesperado amigo um tempo. Apesar de ser chamado de " laico afoito", evitei emitir um ponto de vista que pudesse ser considerado leviano.
Antes da meia-noite, procurei o Renato, e lhe dei minha opinião. Vou resumir. Comecei, afirmando que a Exortação do Pontífice, em parte, me pareceu fora da realidade. Anacrônica? Um retrocesso? Talvez.
Sobre a comunhão dos divorciados. Pedindo perdão a Deus pela rebeldia, o aconselhei a continuar comungando. E ainda lhe fiz ver, que conhecidos calhordas freqüentam a mesa da Eucaristia sem que sejam importunados pela Igreja.
O amigo ouviu, e observou: "Mas os papas não são infalíveis?" Recordei-lhe, que em torno do dogma da "infalibilidade papal", proclamado por Pio IX, na Bula Pastor Aeternum, giram infindáveis discussões. Não há um consenso, dando-o como irrefutável.
E conclui: manter longe da Eucaristia um cristão convicto, católico praticante, só porque o destino o levou ao divórcio, é uma discriminação odiosa.
Deus, com o divorciado, seria tão indulgente, como o foi com a samaritana e a mulher adúltera.
Renato, lá pras tantas, se disse reconfortado.
E prometeu fazer uma oração pelo papa Ratzinger, o responsável pela angústia que o atormentava, desde a divulgação da Sacramentum Caritatis.
e a comunhão
Tenho um amigo que está no terceiro casamento.
Com a primeira mulher, quebrou a cara, e se divorciou; com a segunda, muito ciumenta, quase foi crucificado vivo, e, em tempo, caiu fora; com a terceira mulher, deu certo.
Com Isaura, ele vive há mais de vinte anos. E desse casamento nasceram Junior e Mara. Os quatro são felicíssimos.
Na sua casa, Renato mantém, permanentemente acesa, uma vela sete-dias acesa, nos pés de Santa Rita de Cássia.
Soube, que antes de dormir, Isaura e Renato procuram a santa, e, através dela, agradecem a Deus pela união que os faz as pessoas mais felizes do mundo.
Egresso do seminário, Renato não perde a missa do domingo. Isaura, que no início do casamento pouco ia à igreja, agora acompanha o marido, reza bastante, e ainda ajuda o vigário na arrecadação de mantimentos para a creche da paróquia.
Os dois filhos freqüentam a igreja, mas não com a regularidade esperada. Carregam, porém, no pescoço, ela uma pequena Medalha Milagrosa, e ele um Tau, a letra preferida de Francisco de Assis.
Ainda não os vi comungando, mas, com certeza, fizeram a Primeira Comunhão.
Renato e Isaura formariam, para a Igreja do papa Bento, sem tirar nem pôr, um casal cristão exemplar.
Juro, se necessário com a mão na Bíblia, que estou falando a verdade. Nada daquela de que "o escritor é, em princípio, um mentiroso", espirituosa gozação partida do inigualável Ariano Suassuna, em entrevista que tive o prazer de acompanhar, em um determinado canal de televisão.
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Ontem à noite, o Renato me telefonou.
Acabara de ler a Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, do papa Bento XVI, e entrara em pânico. Revelou-me, quase soluçando, que como divorciado "comungante", se sentia arrasado. E perguntou: "Será que todas as minhas comunhões foram sacrílegas?"
Eu, que ainda não tinha lido nem o resumo do Documento papal, pedi ao desesperado amigo um tempo. Apesar de ser chamado de " laico afoito", evitei emitir um ponto de vista que pudesse ser considerado leviano.
Antes da meia-noite, procurei o Renato, e lhe dei minha opinião. Vou resumir. Comecei, afirmando que a Exortação do Pontífice, em parte, me pareceu fora da realidade. Anacrônica? Um retrocesso? Talvez.
Sobre a comunhão dos divorciados. Pedindo perdão a Deus pela rebeldia, o aconselhei a continuar comungando. E ainda lhe fiz ver, que conhecidos calhordas freqüentam a mesa da Eucaristia sem que sejam importunados pela Igreja.
O amigo ouviu, e observou: "Mas os papas não são infalíveis?" Recordei-lhe, que em torno do dogma da "infalibilidade papal", proclamado por Pio IX, na Bula Pastor Aeternum, giram infindáveis discussões. Não há um consenso, dando-o como irrefutável.
E conclui: manter longe da Eucaristia um cristão convicto, católico praticante, só porque o destino o levou ao divórcio, é uma discriminação odiosa.
Deus, com o divorciado, seria tão indulgente, como o foi com a samaritana e a mulher adúltera.
Renato, lá pras tantas, se disse reconfortado.
E prometeu fazer uma oração pelo papa Ratzinger, o responsável pela angústia que o atormentava, desde a divulgação da Sacramentum Caritatis.