A COBRA MASTIGADA
Era a colheita do café. Maio. Friozinho de arrepiar.
O homem ia e vinha com sacos de grãos nas costas
descendo o cafezal e passando pelas mexeriqueiras
carregadas de frutos.
Fazia o mesmo percurso havia horas.
Lá pelas tantas, bastante cansado, ao passar, sentiu
no calcanhar uma picada. Continuou o caminho.
Retornou com novo saco nas costas e de novo
a picada no calcanhar. "Maldito galho de mexerica,
vou te cortar na volta".
Pela terceira vez ao passar sentiu a picada.
Resolveu parar.
Teve um susto ao ver a cobra, venenosa,
meio metro de cumprimento.
Não vacilou, pegou-a, segurando abaixo da cabeça
e saiu pelo caminho em busca do Posto de Saúde
mais próximo, que era bem longe.
O homem andava, andava, o calcanhar doía
e a cobra em sua mão
a se estrebuchar querendo sair.
Quanto mais andava, mais raiva tomava da cobra
que não parava de se balançar.
"E este Posto que não chega, pensava?"
Possesso de dor, olhou para a cobra
e sem perda de tempo
mastigou-lhe a cabeça sem dó
"Morre desgraçada!"
História verídica contada pelo próprio,
quando eu trabalhava em empresa de café.
Acredite se quiser!