E ela disse adeus
Ela estava bem, o dia inteiro ela esteve bem, mas a noite a tristeza chegou a sua porta, não bateu, apenas entrou… não explicou os motivos, apenas o dominou, o deixando entorpecida...
Ela sofre, ela sente, ela chora… Vê o mundo a sua volta e se pergunta o que esta fazendo nele. Sabendo que não faz parte dele, não existe mais nada a acreditar todos se foram, todos deram as costas quando mais precisou, acreditou nos que prometeram estar sempre ali, olhou para o lado e viu-se sozinha… Está sentada em sua cama, chora em pensar que seu fim será já aconteceu e ninguém impediu, a dor já é rotina, o vazio parece que não muda, o choro é constante, os sorrisos todos falsos, os cortes a cada dia mais profundos, cada dia mais frequentes, a dor de cabeça tem sempre, remédios não vive sem. Menina tão triste e sozinha, tão perdida, só pedindo ajuda.
Está sentindo uma série de sentimentos, e isso é tão estranho porque, não consegue distinguir nenhum deles, qual é bom qual é ruim, o que são. Apenas sabe que sente, quando dá aquele aperto no peito, quando as pernas tremem e se arrepia seu olhar fica baixo e manso e simplesmente não consegue falar. Sabe que vai acontecer alguma coisa ou apenas, que não vai mais aguentar essa sensação, como se tornasse uma bomba relógio. Seus amigos a faz sorrir, o seu garota a faz rir, mas do que adianta se quando está sozinha se sente completamente sugada pela escuridão, se sente uma criança dizendo que tem medo de ficar sozinha, que algo vai vir e vai lhe fazer mal. Talvez tenha problemas, seja louca ou tenha mesmo algo por trás de tudo isso, porque ela sente como se tivesse alguém a observando, neste exato momento…
Não a confunda com uma louca, os loucos deliram, ouvem vozes de comando, perdem a vinculação com o real e, já a garota sabe muito bem o que está fazendo, o que faz, faz com absoluta lucidez. Mergulha de tal maneira nos próprios sentimentos que perde a noção de si mesma.
Sentada no seu canto, em silêncio. Sem entender o que estava acontecendo ainda, sua cabeça estava cheia demais para tentar se importar. Antes era só uma garotinha qualquer feliz da vida, vivia sorrindo, com os olhos fechados para a realidade, ela era feliz (ou pelo menos acreditava nisso). Hoje, triste e solitária, aquele passado parece recente. Mas na realidade, no fundo, nos seus mais obscuros desejos, ela só queria não ter nascido, não estar passando por nada disso. Pensamentos suicidas passam em sua mente, mas ela tem medo, não quer deixar para trás algumas pessoas. Alias, ela só sabe se importar com os outros e esquece de si mesma, sem perceber que isso a estava matando. Sumir! Sumir, só queria isso, mas sabia que não podia… não agora… Ela ainda se importava com os outros, e queria saber como seria se seus desejos virassem realidade. A garotinha falha mais uma vez. Ela só queria ser aquela garota que muitos pensavam que era.
E talvez esta noite ela esteja partindo…
Partindo para algum lugar distante, onde ninguém a conheça, onde ninguém saiba seu nome, onde a dor não exista…
Um lugar para aqueles que foram fortes o bastante para se libertar. Para aqueles que escolheram “não mais existir” como opção…
Talvez depois de algum tempo seja perdoada por aqueles que deixaram por ter feito o que fez. Depois de algum tempo talvez eles se lembrem dela não só como aquela garota problemática e doida que só trazia confusão para as suas vidas. Talvez se lembrem das suas gargalhadas, da sua voz manhosa e irritante, da forma como ela ficava emotiva ao ver o final de um filme ou de um livro… Talvez sintam falta das histórias dela e dos seus conselhos…
E depois de um tempo ela não passará de meras lembranças…