O Capineiro
Era uma linda manhã de domingo
Sr. Vinícius: Bom dia, Roberto!
Roberto: Bom dia!
Sr. Vinícius: Estava aqui sem fazer nada, vi essa sujeira aqui na frente de casa. Pensei: Vou já trabalhar um pouquinho.
Roberto: Fez muito bem! O trabalho dignifica o homem, meu sogro!
Sr. Vinícius: Pois não?! Estava ajeitando as coivaras, porém o vizinho chegou pra reclamar; dei uma paradinha.
Roberto: Meu sogro, não esquente não! Fique tranquilo! Deixe pra lá; é assim o senhor não dê nem bolas.
Sr. Vinícius: É isso mesmo que estou fazendo.
Roberto: Tenho umas coisas pra resolver, mas qualquer coisa o senhor me ligue.
Dia seguinte, bem cedo
O vizinho Seu Jurandir vai até Sr. Vinícius que acordara cedo pra botar fogo no lixo restante
Seu Jurandir: Seu Vinícius, o senhor já está tocando fogo? É mais fácil chamar a prefeitura; ela fará na boa esse trabalho. Fogo é perigoso!
Sr. Vinícius: Que Prefeitura que nada! Ela passa mal…mal de mês em mês! E não vou deixar essa sujeira na minha porta.
Seu Jurandir: Isso não tá certo; e o senhor sabe disso! Qualquer hora esse fogo pode subir e pegar na fiação ou até coisa pior.
Sr. Vinícius: Que nada! Não vai acontecer nada não! Estou com setenta e nove anos. Sempre fiz isso, não vai ser hoje que vai dar errado.
Seu Jurandir: Homem, quem avisa, amigo é! Depois, aqui não é sítio não. O senhor estava acostumado lá na roça. As coisas aqui são diferentes!
Sr. Vinícius: Cajazeiras é uma cidade melhor que aqui, seu Jurandir!
Seu Jurandir: Está bem, seu cabeça dura!
Alguns dias depois
Seu Jurandir: Sr. Vinicius, olha esse fogaréu, tá subindo!
Sr. Vinícius: Ô, homem espetaculoso! É somente uma labaredazinha, seu Jura! Isto não é nada não! Fique tranquilo!
Seu Jurandir: Filho, pega a mangueira aí! O fogo tá subindo! Vai logo, filho!
Me dar logo isso! O fogo vai estragar a fiação!
Sr. Vinícius: Que nada! Até já tá parando. Foi só uma soprada maior do vento. Já passou.
Seu Jurandir: O Sr. É mesmo uma besta!
É assim no bairro em que moro há quase cinco anos. Todo dia tem alguém botando fogo em lixo. Nem parece que moro numa capital! Pode crer, quando vê um fumacê aqui pros lado do Carrefuf, da Br. 230, já pode saber que é gente da minha vizinhança. Tenho a impressão que por causa da saudade que dar do sítio. Dos tempos de roçado, milho verde, batata doce, jerimum, e aquele friozinho bom. E mais, tempo de São João, São Pedro; época de fogueira, quentão, pamonha, cangica, quadrilha e forró do Sítio do Piquí. Sou a dona Francisca. Cajazeirense. Comadre do Sr. Vinícius e não está nem aí pra o bafafá dos dois, pois também sinto uma saudade danada disso tudo.