CARNAVAL NO BNB CLUBE DE SALVADOR


 
Durval Carvalhal

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          Sempre fui um grande folião. Já curti bastante o carnaval de rua em Salvador. Mas, lá pelos idos da década de 90, quando o BNB Clube era uma festa, meu carnaval se restringia a três eventos marcantes: o Baile das Atrizes no Teatro Vila Velha, a tradicional e crítica Mudança do Garcia e a descontração do Clube do banco.

          Houve um ano em que só fui ao Baile das Atrizes, um dos melhores já realizados; e de sábado a terça feira, preferi esconder-me em um sítio, abrindo uma exceção no domingo para ir ao Clube do BNB.

          Em lá chegando, dei de cara com uma das famílias mais harmônicas e distintas que conhecia. Entre uísque e cerveja, falamos de tudo: de economia (Paulo Brito era professor universitário e doutor), direito (Dr. Rui era juiz) e, acima de tudo, de poesia, porque “seu” Paulo, o pai, era um poeta de grande sensibilidade". E mais: de uma memória invejável, de um gosto poético raro e de um saboroso senso crítico.

          Quando ficamos a sós, fui bem machadiano e fui somente ouvido. O carnaval poético foi longo. Pulamos e dançamos pelas ruas de Machado de Assis; de Drummond; de Castro Alves; de Dante; de Shakespeare; de Jorge, o Amado e muitas outras.

          Estava ele, o grande mestre, empolgadíssimo; ia dizendo preciosidades e eu, no talão de cheques, anotando tudinho:
__ Feliz de quem chegou aonde cheguei. O que é bom, se for melhor, estraga.
__ Com que arte, pintor, trabalha? Que lindas telas tu pintas! A vida te dá migalhas e a roupa suja de tintas.
__ Tenho casa pra morar/ Mulher pra amar/ Filhos pra admirar/ Sítio pra descansar/ Vaca pra ordenhar/ Leite pra amamentar/ Musa pra inspirar/ Coisa boa pra sonhar/ E o resto só vai estragar.
__ A cerveja vai entrando/ Você não viu o que vi/ Muita gente se levantando/ Pra gemer no xixi...

          Sem dúvida, foi um carnaval memorável! Inesquecível! Uma simbiose perfeita de Voltaire e Veríssimo. Vivemos um dos momentos brilhantes do melhor dos mundos possíveis... do romântico ao filosófico. Bons tempos que não voltam mais.

 
Durval Carvalhal
Enviado por Durval Carvalhal em 14/02/2013
Reeditado em 15/02/2013
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