ABELHAS ENTURMADAS
Gosto demais das abelhas. Admiro-as como operárias que, da incansável labuta, conseguem resultados maravilhosos, tanto na construção dos favos como na produção de um alimento tão completo como o mel. Um ataque de abelhas pode ocasionar problemas sérios à pessoas ou animais mas, deixando-as em paz, a convivência pode ser pacífica.
Pois bem, esse preâmbulo é para contar algo sobre meu contato com algumas moçoilas da espécie. No calçadão, em Santa Maria, tem uma cafeteria onde seguidamente pego um cafezinho e vou tomá-lo tranquilamente em um banco nas proximidades. Acontece que os copos de plástico colocados nas lixeiras do calçadão, com resíduos de café ou refrigerante, atraem abelhas que acredito serem civilizadas. Não sei o endereço delas, mas que são civilizadas são, pois convivem pacificamente com as pessoas na cafeteria e no calçadão.
Hoje uma delas resolveu me seguir. Eu a vi rodeando o açucareiro enquanto adoçava meu cafezinho. Estava com duas sacolas, peguei o copo, saí e sentei-me, como sempre, num dos bancos. Ao abrir uma das sacolas, surpresa! Lá estava ela, toda feliz, ensacolada! Delicadamente deixei-a sair e a danada resolveu me fazer companhia e dividir o café comigo! A abelha pousava no copo, eu levantava, ela voava, eu sentava, ela voltava. Para resolver aquele senta, levanta, acabei tomando o cafezinho em pé e dei no pé, sem mesmo me despedir da dita cuja.
Mas sufoco mesmo aconteceu outro dia. A abelha não me deixava de jeito nenhum e eu tive que sair, com café e tudo, do lugar onde sentava. Fui até o fim do calçadão, olhei para um banco já pensando: despistei a menina! Sento e o que vejo? A própria! Com a cara mais deslavada do mundo, saltitante, ou melhor, esvoaçante, frente a mim. Saí a toda, derramando café, misturei-me à multidão e acho que ela me perdeu de vista. Tranquilamente terminei meu cafezinho, não sem que um pensamento martelasse na minha cabeça: quem teria sido a próxima vítima daquela abelhinha civilizada, mas insistente e sem desconfiômetro algum?
Parece que as abelhas estão se modernizando e, talvez pela diminuição de espaços naturais, se urbanizando e se enturmando com os humanos. A continuar assim, logo, logo teremos mel com gosto de café ou refrigerante!