Mas, hey mãe!
“Mas, hey mãe!
Alguma coisa ficou pra trás
Antigamente eu sabia exatamente o que fazer ”
É mentira, mãe, eu nunca soube o que fazer. Eu nunca soube andar sozinha, eu sempre tive medo, mas eu nunca demonstrei, eu sei, eu também tinha medo de demonstrar, ainda tenho. Ei, mãe, eu não queria ter ‘amadurecido’ tão rapidamente, não queria ter a sua atenção reduzida para mim, e isso aconteceu tão cedo, e eu sinto tanto por isso, eu sempre quis me acolher nos teus braços, deitar em teu colo e chorar, mas você sempre dizia que eu já era grande, que eu sabia me cuidar, e se eu te contar que eu nunca soube? Que eu sempre precisei dos seus cuidados? Será que assim eu poderia correr para os teus abraços, e chorar todas as lágrimas que eu me neguei chorar na infância? Será que assim você teria olhos para mim? Será que assim você veria como eu sou frágil e que se você olhar bem, eu tenho todos os meus medos estampados em meus olhos?
Ei, mãe, você sempre disse que eu poderia sonhar, mas nunca disse que meus sonhos poderiam ser roubados de mim, por quê? Eu sonhei demais, mãe, eu quis ter o mundo em minhas mãos, e descobri que não passo de um grão de areia na imensidão de um deserto, ou de uma gota d’água na vastidão do oceano. Eu sou pequena, mãe, apesar dos meus 1,75 m, eu sou pequena, e você não ver, você não repara, por quê?
Eu chorei centenas de vezes e você nem notou os meus olhos vermelhos, você nunca se importou com a minha insônia, com o meu medo do escuro, agora já não o tenho mais, mas eu queria você segurando minha mão até eu pegar no sono, mas eu te via embalar o sono dela, e eu? Eu não tinha mais idade para ouvir uma história até dormir? Não tinha mais idade para receber um beijo de boa noite? Ah, mãe, podem parecem só detalhes, mas quando juntos eles são enormes, maiores que um tsunami, mais cruel que a fúria de um vulcão, mais devastadores que a queda do muro de Berlim. É exagero mãe? Você sempre disse que eu exagero nos fatos, e sempre aumento os acontecimentos, mas dessa vez, ao menos dessa, eu estou sendo fiel aos acontecimentos, e talvez seja tarde para você perceber o estrago que tudo isso causou em meu peito.
Ei, mãe, você reclama da minha solidão, da minha mania de me afastar de todos, e preferir o silêncio, mas eu cresci em meio a ele, eu sobrevivi por causa dele, será que você se lembra? Eu lembro, mãe, eu lembro das noites que a angústia e o medo eram as minhas únicas companhias. Eu lembro do medo me corroendo e não havia ninguém lá para me dizer que tudo ia ficar bem, por mais que fosse mentira, por mais que não ficasse, eu gostaria de ter ouvido.
E agora, mãe? Agora eu não sei se quero ouvir, não sei se quero escutar todas essas frases de encorajamento, agora não sei se elas surtem efeito, não em mim. Agora, talvez seja tarde para tentar me embalar, e secar minhas lágrimas. Talvez o silêncio seja o meu melhor recado, porque as minhas palavras ferem, mãe, e eu não me permitiria te ferir, mas as vezes elas escapam, as vezes falo o que não devo, então não me acusa se eu me calar. Não me apedreja se eu preferir a solidão, a uma reunião familiar. Não me acha estranha por eu não ser como eles, por não gostar de sair aos sábados, e preferir me trancar em meu quarto. Não me condena por ter aprendido a viver comigo muito cedo, mas achar que a convivência comigo mesma está se tornando insuportável.
Ah, mãe, já anoiteceu, e eu queria voltar a ter três anos de idade, quando eu ainda tinha a tua atenção, e os teus olhos fitavam os meus, e você sorria alegremente para mim, e agora eu não sei mais sorrir, não consigo retribuir aos teus sorrisos. Desculpa por ter-te feito me ver chorar, eu não queria isso. Você também chorou, e veja bem, a tristeza era só minha. E se eu te contasse tudo que eu sempre guardei para mim, você choraria? Eu nunca vou descobrir, mãe, e você nunca vai saber que eu sinto a sua falta, mais do que o normal.
Eu gostaria de olhar em teus olhos e encará-los como eu fazia antes, mas eu não consigo, me perdoa.
(Está incompleta).