<> PARABÉNS PRA VOCÊ <>
PARABÉNS PRA VOCÊ...(ou um drama dos Pais)
Minhas filhas Claudia e Márcia tinham seis e cinco anos.
Chegara o tempo de acompanhá-las às festinhas de aniversário.
Brotam muitos convites vindos da Escolinha, e era impossível me
furtar a essa tarefa paterna. O CONVITE. Claudia, “Eu sou o Lucas/ Faço
seis aninhos/Venha à minha casa/Comer o meu bolinho.
No verso o endereço. Próximo passo, comprar um presente.
E não se atreva a levar roupa ou um embrulho pequeno. Você
não sobreviverá ao olhar de decepção do aniversariante.
Se você perder o número da rua, sem problema. É aquela
casa onde estiver entupido de crianças detonando as flores
e pisoteando o jardim. Na sala principal você vai encontrar um
grupo de mães falando de empregadas ou da inteligência de
seus pirralhos, "todos eles estão em primeiro lugar na classe".
Lá no fundo da casa os Pais, que depois quarto uísque, e como se
velhos amigos fossem, falam só sobre política, futebol e amantes.
Outros, como um Don Juan já se insinuam para as jovens mães.
Tive que desistir do "não posso demorar. Amanhã tenho que levantar cedo". Seria maldade “arrastar” as meninas antes de soprar as velinhas. Havia um bolo enorme em formato de campo de futebol. E esse bolo para ser cortado exigia uma espera infinita: _ vamos aguardar a chegada da avó, disseram. Depois, esperar a madrinha, depois, a professora. De repente, pronto: a molecada toda em volta da mesa grande cantando “Parabéns Pra você”. Aí vieram muitas palmas e começou o enfadonho “com quem será?? Luquinha então sopra as seis velinhas mágicas que insistem em reacender indefinidamente. E o pestinha, encima de uma cadeira, repetia o sopro. Depois disso, houve um ataque frenético aos cajuzinhos, brigadeiros e outros. O pai, eufórico, queria fotografar tudo: -agora com a vovó, agora com os coleguinhas, agora com professora com seu decote.
A essa altura já tinha mais doce pisado do que na mesa.
Junto a gritaria infernal, acrescente: o estouro de balões e o
“Ilariê” da Xuxa.
Algum tempo depois, UFA! As meninas aparecem, mortas de cansaço
e sono:- "vão bora Pai?" Despedi apenas dos donos
da casa, e parti em retirada, com medo de alguém mudar de ideia.
Na volta, elas “desmaiaram” no banco de trás.
Em casa, tomei duas aspirinas e também apaguei. De manhã, enquanto tomávamos café e fazíamos uma resenha da festa, minha filha -agora a Marcia- me estendeu a mão toda feliz, com um comovente CONVITE: Marcia, Eu me chamo Ana/ Eu vou fazer cinco aninhos/Para essa data eu convido/Todos os meus amiguinhos.
Por um instante eu pensei em pular do décimo andar.
marcio felix