VIDENTES, DE MÃOS DADAS COM O ESTELIONATO

Tenho visto vários painéis dispostos em locais de grande visibilidade divulgando a presença na nossa cidade da astróloga e vidente Dona Júlia, a qual, segundo dizeres do outdoor, tem poderes para trazer a “pessoa amada em sete dias”. Taí um trabalho que eu gostaria de ver. Fico imaginando o que essas pessoas que se dizem “especiais” fazem. Será que “falam” com as divindades? Pedem a sua intervenção?

Pelo que eu tenho visto até hoje, tudo não passa de engodo. Ainda não conheço uma pessoa que tenha se dado bem utilizando os “serviços” do além ou das forças ocultas. Nem os próprios videntes, cartomantes ou seja lá o nome que usam, são bem de vida; vivem sempre na pior, nunca ganharam na loteria, no bingo e nem rifa de quermesse. A conhecida Mãe Diná, candidatou-se a vereadora ou deputada e foi vergonhosamente derrotada; portanto, não previu nem a sua própria derrota. Caiu no ostracismo.

Mas nem só de videntes, cartomantes e pai de santo vive a nossa cidade. Por outro lado as rádios estão anunciando um produto chamado “Amargo”, nome bem sugestivo, que cura tudo, qualquer tipo de doença. A lista de beneficios que o anuncio expõe é infinita. Vai de rim inchado a espinhela caída. O remédio é milagroso e está nas prateleiras das farmácias.

Não conheço, não usei e nem estou condenando, apenas duvido de tanta eficácia; não dizem que quando a esmola é muita o santo desconfia… pois, é! Pelo que ouvi não é um remédio é um milagre, uma intervenção divina.

Em ambos os casos a investigação policial torna-se necessária. Para ser liberada a divulgação, a propaganda de algum produto ou de “mulheres maravilhas e poderosas”, deve-se autenticar primeiro. Depois, quando o incauto já caiu na armadilha, é tarde.

Interessante é que esse tipo de gente são como aves de arribação; chegam na cidade armam acampamento ficam poucos dias e somem. Por qual motivo não fixam residência? Certamente é o medo da justiça quando os golpes explodirem.

Porquê esses advinhadores ou comunicadores do além, tal qual a Dona Júlia, não dizem onde está o corpo de Ulisses Guimarães, da Eliza Samúdio, ou para sair do campo nacional e ficar aqui na nossa terrinha, onde está o corpo de Chiquinho Despachante? Pelo menos onde foram parar as belas pedras portuguesas que calçavam a rua Simeão Ribeiro e foram retiradas em troca das cerâmicas desbotadas e horrorosas que hoje lá estão? Posso ajudar com uma informação alhures; dizem que ornamentam a fazenda de um ex-politico. Fácil de apurar. Basta pedir uma prestação de contas ao prefeito responsável pela a obra.

O estelionato no seu tipo fundamental, na sua configuração básica vem disciplinado no artigo 171, caput, do Código Penal: obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Ao invés da clandestinidade, da violência física ou da grave ameaça, o agente, no estelionato, emprega o engano, a lábia, a astúcia, o engodo, sem alarde ou estrépito.

Meio fraudulento + erro + vantagem ilícita + lesão patrimonial = estelionato.

Nos casos de videntes, cartomantes, pai ou mãe de santo, o golpe têm como características o artifício.

Artifício pode ser definido como uma encenação material, com a utilização de algum aparato ou objeto para enganar a vítima, isto é, o agente com determinado mise-en-scène ou estratagema provoca ou mantém em erro a vítima. Também se utilizam de ardil que é a conversa enganosa, a lábia, o “bico doce”; já não se trata da fraude material, mas a intelectual. Muito usada pelos políticos.

O estelionato é um crime material, e assim, a consumação se dá quando ocorre a produção do resultado, ou seja, o crime se consuma no momento em que o agente consegue obter a vantagem ilícita, em prejuízo da vítima.

Daí a dificuldade da configuração do crime, pois, torna-se preciso a queixa da vítima. Sem ela a policia não pode agir; fica de mãos amarradas.

A polícia sabe que esse crime é comum, todavia, as vítimas não costumam levar os casos às autoridades, ficam envergonhadas.

As pessoas têm necessidade de encontrar respostas para as angústias que têm, e por causa disso buscam mecanismos imediatistas.

Diante dessa realidade de intenso movimento o que se percebe é que as pessoas estão preocupadas em obter respostas. E para isso, acabam em busca de videntes com objetivo de justificar esses questionamentos.