A VIRGULA minha de todas as horas.
Por carlos sena
Gosto da vírgula. Não gosto das reticências. Gosto mais ou menos da interrogação, mas não sei se gosto da exclamação. Gosto da vírgula porque ela é direta, se coloca onde deve ser colocada e quando não, ela assume. No seu gesto de assumir, muito parece com pessoas decididas que dizem pra que vieram, mesmo quando não sabem ainda disso ou tem pouca certeza a respeito. As reticências são iguaizinhas a gente que só sabe ficar em cima do muro. Pode ver que aqueles que ficam em cima do muro sempre são da ocasião que melhor lhes aprouver. Enquanto o momento não chega vão se enrolando e enrolando os outros dentro das suas conveniências. Se não sabem dizer nada, não dizem que não sabem, deixam em surdina, portanto, nas reticências... Da exclamação digo que fico reticente. Vejam que ironia: diante de um fato novo, há quem não se pronuncie, mas se pergunte “o que é isso”? Acho mesmo que a interrogação é prima legítima a das reticências – talvez por isso eu tenha dificuldade de defini-la como “alma boa ou alma sebosa”, mas deixa quieto. Acho-a metida. Em qualquer conversa ela se interpõe e nem sempre da melhor maneira. É meio intrometida, principalmente porque nunca tem certeza de nada. Pelo menos com as reticências isto não é patente... Porque com elas a gente não sabe dos seus sentimentos, o que não ocorre com a interrogação. Da exclamação eu gosto. Ela é vibradora, peca, às vezes por excesso de otimismo diante de coisas e fatos do nosso cotidiano. A exclamação me parece austera nalguns momentos. Por isso gosto dela. A austeridade é importante em certos momentos de vida, mesmo a vida gramatical. Por isto gosto mesmo da exclamação e fico em cima do muro, imitando as reticências quando o quesito é a interrogação. Claro que perguntar não ofende, mas pergunta besta ofende em certos ângulos de visão. Mesmo diante de uma pergunta dura, correta, a gente fica se perguntando sobre ela, daí o meu pouco afinco com essa “bengalinha” gramatical. A vírgula, não. Como a vírgula se coloca bem! Vejo-a como um “Ronaldinho” ou um “Romário” ou um “Neimar” da nossa gramática, mais grama do que ática. Com a vírgula tudo se define. Quando não concorda com algum elemento da frase, como um verbo, por exemplo, logo ela grita e pede arrego ao seu escritor do momento. Um texto sem vírgula não é texto é um “roçado” de milho ou de feijão... É, pois a minha virgulinha, um elemento que dá alma ao que se quer dizer ou não dizer. A vírgula rouba um pouco o papel das reticências, da interrogação e da própria exclamação, dependendo que quem a usa. Como se vê, é fantástica mesma essa pausa respiratória que faz nossos textos ganharem vida e emoção no conjunto dos demais símbolos. Ou não?
Por carlos sena
Gosto da vírgula. Não gosto das reticências. Gosto mais ou menos da interrogação, mas não sei se gosto da exclamação. Gosto da vírgula porque ela é direta, se coloca onde deve ser colocada e quando não, ela assume. No seu gesto de assumir, muito parece com pessoas decididas que dizem pra que vieram, mesmo quando não sabem ainda disso ou tem pouca certeza a respeito. As reticências são iguaizinhas a gente que só sabe ficar em cima do muro. Pode ver que aqueles que ficam em cima do muro sempre são da ocasião que melhor lhes aprouver. Enquanto o momento não chega vão se enrolando e enrolando os outros dentro das suas conveniências. Se não sabem dizer nada, não dizem que não sabem, deixam em surdina, portanto, nas reticências... Da exclamação digo que fico reticente. Vejam que ironia: diante de um fato novo, há quem não se pronuncie, mas se pergunte “o que é isso”? Acho mesmo que a interrogação é prima legítima a das reticências – talvez por isso eu tenha dificuldade de defini-la como “alma boa ou alma sebosa”, mas deixa quieto. Acho-a metida. Em qualquer conversa ela se interpõe e nem sempre da melhor maneira. É meio intrometida, principalmente porque nunca tem certeza de nada. Pelo menos com as reticências isto não é patente... Porque com elas a gente não sabe dos seus sentimentos, o que não ocorre com a interrogação. Da exclamação eu gosto. Ela é vibradora, peca, às vezes por excesso de otimismo diante de coisas e fatos do nosso cotidiano. A exclamação me parece austera nalguns momentos. Por isso gosto dela. A austeridade é importante em certos momentos de vida, mesmo a vida gramatical. Por isto gosto mesmo da exclamação e fico em cima do muro, imitando as reticências quando o quesito é a interrogação. Claro que perguntar não ofende, mas pergunta besta ofende em certos ângulos de visão. Mesmo diante de uma pergunta dura, correta, a gente fica se perguntando sobre ela, daí o meu pouco afinco com essa “bengalinha” gramatical. A vírgula, não. Como a vírgula se coloca bem! Vejo-a como um “Ronaldinho” ou um “Romário” ou um “Neimar” da nossa gramática, mais grama do que ática. Com a vírgula tudo se define. Quando não concorda com algum elemento da frase, como um verbo, por exemplo, logo ela grita e pede arrego ao seu escritor do momento. Um texto sem vírgula não é texto é um “roçado” de milho ou de feijão... É, pois a minha virgulinha, um elemento que dá alma ao que se quer dizer ou não dizer. A vírgula rouba um pouco o papel das reticências, da interrogação e da própria exclamação, dependendo que quem a usa. Como se vê, é fantástica mesma essa pausa respiratória que faz nossos textos ganharem vida e emoção no conjunto dos demais símbolos. Ou não?