O Robô
Que vem lá? Olhos virados pra baixo. Boca muda. Empurra sujeira do chão.
Não diz bom dia ou boa tarde. Repete movimentos de varre-sujeira-empurra-para-dentro-de-uma-pá.
Tem filhos? Hum, parece não ter idade. Nesse mundo quem tem idade certa para ter filhos? Filhos hoje em dia, está-se generalizando, viram pais, quase sem deixarem de ser filhos.
Continua varrendo, e varre, varre, varre, serial. Um ou outro levantam os pés quando a ferramenta de limpeza precisa trabalhar debaixo de algum acento. Nenhuma palavra dita, tudo automaticamente realizado, coreografia maquinal. Todos parecem saber como e quando levantar e “ajudar”.
Quem lê continua. Se escreve não pára. Os que papeiam não mudam tom. O olhar não cruza o de ninguém. É vazio. Sem sorriso, sem expectativa, sem emoção, sem brilho, calado. Nada de indícios humanos.
Nem sempre foi assim. Antes remotamente tinha no peito coração. Inda tem. Andrógino de uniforme, sua carne de metal, repete movimentos. Robô unissex , não pára sua tarefa...nunca.