USOS E COSTUMES
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Antigamente, no interior, se dizia roupa de ver Deus, significando roupa nova, domingueira, usada para ir à missa no domingo. Também em dias de votar, em aniversários, casamentos, em velórios. Na Semana Santa e em outras festas religiosas. Até pessoas simples vestiam então, com orgulho, as melhores roupas de que dispunham. Dos distritos e sítios próximos vinham caminhões abarrotados de gente, tendo como referência e destino, em seu GPS espontâneo, a Rua Direita, em direção à Praça da Matriz.
Hoje, nas capitais e em muitas cidades do interior, grande referência são os shoppings, e as roupas e calçados seguem as últimas tendências. Hoje, vestir-se bem é usar roupa da moda, roupa de ir a um templo da modernidade onde se entra de carro, retira-se um ticket e, invariavelmente, se ouvem as palavras: Boas compras! Na verdade, dificilmente alguém sai de um shopping sem deixar ali algum dinheiro.
Curioso. Homens do interior, principalmente da zona rural, usavam camisas sem gola, representativas de condição modesta, feitas na roça mesmo. Hoje se compram camisas sem gola, consideradas chiques. Outro detalhe: homens da roça usavam um tipo de calça chamada calça pega-frango, calça pesca-siri, calça pega-marreco, calça meia-coronha, mais curta que a calça comprida. Do tamanho de um tipo de bermuda muito em voga hoje em dia. Às vezes fico pensando como é curta a distância entre o brega e o fashion, entre o erudito e o popular.
Enfim, traje pode virar ultraje. “Nada influencia mais profundamente o sentir do homem do que a fatiota que o cobre”, assegura Eça de Queirós pela fala de Fradique Mendes. “Toda a roupa recebe a alma de quem a usa” é o veredicto de Mia Couto. Encarar o ser humano histórico, cultural, postiço, tornado etiqueta, e sem identidade, faz a diferença. As pessoas viraram coisa, vestindo-se literalmente, da cabeça aos pés, a tendência da moda. Tabuletas vivas e ambulantes, fazendo propaganda. E de graça.