Já não era um domingo qualquer
Aquele bar era, talvez, o que ele mais precisava naquele momento. Não para se sentir melhor. Essa já não era das mais fáceis tarefas. Digamos que ele fora para rever seus amigos; ou, quem sabe, ver pessoas diferentes. Sair daquele mundo que ele mesmo criara. O que ele não imaginava era que, em meio àquelas figuras - algumas estranhas, não se pode negar - uma se destacaria frente às demais. A de alguém que, lá atrás, há anos já, mexera com seus sentimentos. E, mesmo sem ele querer - embora momentaneamente - voltaria a mexer. Dando, desse modo, uma cor mais viva àquele mundinho preto e branco; às vezes, um tanto quanto acinzentado. Agora, diferente da primeira vez em que seus olhares se cruzaram, ele não deixou o medo de um "não", nem mesmo a timidez, ditarem as regras. Então ele falou o que há tanto estava escondido, guardado com ele a sete chaves. Aí, então, aquele beijo que já era tão aguardado veio como um sopro de vida em meio à morte que teimava em tomar conta. Nesse momento, ele fechou os olhos; se entregou tão completamente, que por um instante se desligou de tudo o que lhe trazia medo, angústia. E, mesmo sabendo que precisava partir, ele se negou a ir sem, mais uma vez, se entregar àqueles lábios, àquele abraço. Desde então ele passou a sonhar acordado. Um sonho tão bonito que, a cada nova imagem que lhe vinha à mente, soltava um suspiro. Longo, mas tão longo, que parecia não querer mais cessar. Isso aconteceu em um domingo. Inicialmente cinzento. No fim, um pouco mais colorido, vivo talvez. Quem iria saber? Ou se atrever a afirmar o contrário? Talvez, apenas ele mesmo. Somente ele sabia o que sentia, e os motivos que o fizeram sair de casa nesse domingo chuvoso. No fim das contas, ele falara! Felizmente! E, dessa vez, ele não era o "arroz-de-festa", nem mesmo a sobra de um fim de noite. E conseguira por alguns instantes, sentir corpo a corpo, pele a pele, olhos nos olhos, lábios nos lábios, quem ele tanto queria. E, apesar de breve, fora o que o deixara feliz. Pois bem, isso que acabo de relatar aconteceu! Hoje! E esse “ele” que tanto citei, na verdade, era eu mesmo!