Eu não queria ter saído da cama.

Foi de tanta paz aquele segundo de sonho. Encheu-me o coração sabe? Lembra-se de quando escreves? Teu peito enche, tua mente ferve e teu corpo se encontra.

Era uma casa-galpão no sul da Noruega, frio, muito frio. A casa era rodeada de árvores altas. Era o necessário, nem grande, nem pequena demais. Não sei o nome da cidade, na verdade, não havia cidades. Cada um morava em seu canto, casas com um a quatro quilômetros de distância uma da outra, e todos tinham casa. Não tinha governo ali, o governo era de outro patamar. Mendigo e corrupção eram ultrapassados (não, não estou colocando o mendigo como um corrupto). Era assim em todo o mundo.

O que perdurou? Livros, cadernos, canetas, banjos, gaitas violões, etc. No andar de cima lá de casa havia só o quarto nosso. Desci a escada de madeira, de meias e enrolada no cobertor mais quente que já vi. Eu, cabelos curtos e cacheados, e por sinal, descabelados. O bule esquentava. Parei na escada, escutando o silêncio e sorri. Encontrei minha metade da laranja muitos anos atrás e vivíamos felizes desde então. Enquanto lavava o rosto pensei em me envolver de novo no cobertor e ler. A sala e a cozinha eram emendadas, com um grande sofá e um mesão de madeira, e, atrás desses uma enorme biblioteca.

Ouvi os passos dele. Chegou com o trigo, o grão de café e um vinho da adega. Foi recebido com um beijo de acalento. Ele estava gelado, afinal andou na estrada de terra toda cheia de neve, da rodovia até aqui. Um cenário tão encaixado, certo e previsível parece ser chato? Pois é, mas nunca foi. De todos os poemas já escritos, os de alegria sempre me agradaram, e garanto-lhe que é muito melhor vive-los do que lê-los.

Éramos um casal amante, não apaixonado, mas com uma madureza que só o tempo trouxe. Amava estar em seus braços, assim como ele amava estar sobre os meus. Cães. Sem filhos. De nós não há nada mais a discutir. Eu amava o sol da meia-noite, saia só, só para vê-lo e escrevê-lo. Eu amo a paz e nada faço melhor do que sonhar com ela.

Nesse tempo já não se poluía, nem se discutia, nem se destruía. O que acontecia então? Estudos, descobertas, criações. Tudo certo

Era quinta, 25 de agosto de 5054. Era meu sonho, podendo até soar utópico, mas que em breve não será.

Sonhemos então.

BH, 2013.