O CASACO DE COURO
Em fins dos anos de 1950, havia poucas opções, em Santo André, de lojas categorizadas em trajes, tanto feminino como masculino. A não ser algumas costureiras, como a Dona Isaura, a Dona Joia, a Letícia Guazzelli, as mais famosas, e no lado masculino, alfaiates tais como o Somera, o Américo Serra. A solução era nos socorrer de São Paulo. Assim, a cada mês ou dois, lá ia minha mãe para a capital, para as compras necessárias.
Muitas vezes fui junto.
Nesse tempo,  estabeleceu-se em São Paulo, uma loja americana, a Sears Roebuck, onde hoje é o Shopping Paulista, no Paraíso. Foi um tremendo sucesso! Alguns anos depois ela veio abrir uma filial em Santo André, na Rua Campos Sales, ali onde é a atual C&A. Meu irmão Sebastião já havia atingido a maioridade, tocava a Mercearia Dom Bosco de nossa propriedade.
O Tião, como o chamávamos, era meu ídolo. Cinco anos mais novo, vivia eu atrás dele, querendo fazer tudo o que ele fazia. Coitado! Era eu um chato, um “pentelho” como falamos vulgarmente. Quando ele me contrariava, eu ficava uma fera, lhe dando violentos pontapés na canela. Ele sofreu um bocado comigo! Se arrependimento matasse, hoje não estaria aqui escrevendo esta crônica.
O Sebastião cismou em comprar um casaco de couro, que não sei como, ele soube existir na Sears. E o chato aqui resolveu também querer um. Eu, queridinho da mamãe, venci a batalha, e ele teve que me levar junto para comprar o dito cujo. Lá fomos nós, com o Chevrolet 1937 que tínhamos. Só que eu era franzino, magrinho, e a indumentária era para adulto. Mas..., quem conseguiu tirar da minha cabeça! Compramos, então, dois casacos. Eu parecia um bobo, com aquela roupa. Como a marchinha carnavalesca, que dizia:
 “engole ele, engole ele paletó, engole ele, que dono dele era maior...”. O que aconteceu? Só fui usá-lo alguns anos depois!
Nem vou contar, a história do sapato tricê, que um tio já idoso usava, que obriguei minha mãe comprar. Tive vergonha de usá-lo, por constatar ser “coisa de velho”!
Hoje, quando me recordo dessas idiotices, fico até com vergonha de tão ridículo que eu era!
 

Aristeu Fatal
Enviado por Aristeu Fatal em 11/02/2013
Reeditado em 11/02/2013
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