O papa não é pop.
Depois de séculos, um papa renuncia ao direito de morrer papa. O cardeal Joseph Ratzinger, conhecido como Bento XVI e também conhecido por sua postura firme e por muitos tida como radical, toma uma atitude inesperada, mas, que denota a grave situação do catolicismo, ousaria dizer, do cristianismo como um todo.
Sim, o próprio cristianismo se encontra atravessando uma das suas maiores crises, talvez a mais grave, já que instalada no interior dele mesmo. As bases do maior representante do monoteísmo acham-se em ruínas, pois se estabeleceram e se mantiveram por séculos, sobre ideais questionáveis e práticas reprováveis.
A Igreja Católica, no alvorecer do Século XXI, ante uma evolução incontrolável da humanidade, na contra-mão da história, se vê debatendo-se contra questões já bem aceitas pela grande maioria das pessoas no mundo todo, como o uso de camisinha, o aborto, a união homossexual, e por aí... O catolicismo caiu na desgraça do conservadorismo sem limites, na truculência que gera fiéis não tão fiéis, meros repetidores de um ritual cansativo, enfadonho e sem sentido. Repetidores também, de encíclicas retrógradas, antipopulares e principalmente, contrárias à essência do discurso do cristianismo primitivo.
Agora, me pareceu muito, mas, muito estranho, o fato de o anúncio da retirada do líder da igreja romana se dar exatamente no meio do carnaval, já que ele alega ter consultado longamente sua consciência. Ora, esse anúncio poderia ser dado antes ou depois do carnaval, mas, parece que o Vaticano escolheu um momento específico para chamar a atenção do mundo sobre si. Essa saída com dia e hora marcados não pode ser aceita como se fosse um fosse um funcionário de uma empresa aguardando pra fechar o mês.
Outra coisa que não me cheira bem é a justificativa muito estranha aos costumes do Vaticano. Não é comum nos tempos modernos do catolicismo, um papa abandonar o barco justificando inaptidão física. João Paulo II por exemplo, foi substituído pelo próprio Ratzinger, na maioria das suas funções, meses antes de morrer. E manteve a tradição de morrer no comando, como um herói da fé até o último suspiro.
Não. O papa Ratzinger nunca foi um sujeito popular ou querido. As circunstâncias mundiais envolvendo sua igreja não são nem um pouco favoráveis. É bem provável sim, que uma grande pressão da própria cúpula católica o tenha induzido a sair de cena, para o bem de todos e da própria saúde.
Não que isso vá causar grandes abalos no mundo, posto que o catolicismo não tem mais o poder que tinha há cem anos, mas, é certo que estamos tendo a oportunidade de presenciar a ruína dos pés de barro do grande totem cristão. As outras partes (os demais pseudocristãos), já vemos corrompidas, degradadas, aos frangalhos também, prontos para acompanhar o movimento em direção ao abismo.
Lamentável é a manipulação da informação, o jogo com a boa fé do povo, tão condenados e tão repetidos em nossos dias. Mas, isso também não é novidade. Importa ser pop.