O outro lado das preces

Com uns 13 anos, eu frequentava a igreja. Acordava todos os domingos, às 6 da manhã, e de forma pouco devota, estacionava em frente ao espelho a fim de extrair de mim o melhor sorriso, combinado com a roupa certa. Descia as escadas com ansiedade e, ao lado de uma amiga, percorria as esquinas até chegar à Paróquia.

Assim que pisava em solo religioso, vestia o rosto com uma seriedade necessária e solenemente atravessava o recinto, mesmo que muitas vezes chegasse a me esquecer do cumprimento para adentrar a casa do santo.

Mas era tudo uma farsa, um grande circo. Assim que a razão de minha devoção aparecia por entre as cabeças promesseiras, eu me revelava. Ele tinha a estatura e idade superiores e, com seus óculos, provocava em mim uma paixão de menina que me fazia bocejar menos aos domingos. Era por causa dele e todo mundo sabia disso.

Trabalhei nisso durante algum tempo. Com o folheto das preces nas mãos, eu evitava cantar ou balançar os braços por achar que ele me veria como imatura, ou um ser ridículo simplesmente. Sempre ajoelhava no momento da comunhão, mas em vez de carregar de pedidos a bolsa do todo-poderoso, eu observava meu amante, enquanto escondia minha adoração em meio aos sacrilégios.

Até que as bênçãos cessaram e passei a entrar na igreja com mais respeito, ao lado da minha mãe. Observava as sofridas preces que ela redigia em laudas e mais laudas de expressões e sussurros inauditos. Por muitas vezes, tentei imitá-la, pensar em algo doloroso e escalar com sofrimento as paredes da Paróquia até chegar aos pés de Jesus, a fim de pedir seus préstimos.

Mas essa minha ascensão aos céus durava muito pouco tempo. Logo, meus olhos e mãos sofridas disparavam devotas em direção à porta da igreja e ansiavam violentamente pelas pipocas amanteigadas do tio do carrinho, que infestava o recinto e as narinas, prometendo prazerosos momentos, sempre depois da missa.