CAÇA AO TATU

* Essa crônica é fiel à narrativa feita por minha saudosa mãe, de quando ela ainda era menina, portanto, atribuo a ela a co-autoria.

Lembro-me como se fosse hoje... Era sexta-feira da Paixão, e meu pai, que gostava muito de caçar, perguntou ao meu irmão Paulo:

“_Filho, vamos pegar um tatu?”.

“_Vamos sim, pai”.

E lá se foram pela noite, assustando as galinhas que dormiam nas árvores e poleiros, tão empolgados e distraídos que nem se lembraram que, segundo a tradição, caçar no dia santo poderia ser “perigoso”. Juntaram os apetrechos de caça, Paulo chamou os cães e lá se foram eles muito contentes para a caçada.

Chegando na mata papai soltou os cães:

_ “Vai Duque! Corre Negrinho!” – e os dois foram correndo, alegres, saltitantes quando, de repente ouviu-se os gritos dos dois cães no meio da mata escura, e eles voltaram numa disparada doida, enroscando-se nas pernas de meu irmão Paulo e de meu pai.

_”Mas o que está acontecendo?! Parece que viram assombração, credo em cruz!!! Vamos para o outro lado da mata. Vem Duque! Vem Negrinho!!” – e deram a volta entrando na mata pelo outro lado quando, de repente, fez-se um barulho e meu pai olhou e viu um tatu enorme, e correndo com a lanterna atráz , gritou : _”Pega a espingarda, filho, e vamos seguir o bicho!” – E lá se foram os dois com os cães correndo na frente. Dali a pouco, eis que subitamente pararam e voltaram desesperados, escondendo-se atráz dos dois.

“_ Que estranho, meu cão Duque não tem medo de nada...” Retrucou papai. Paulo, muito assustado, disse:_” Vamos embora, pai, to com muito medo”!

_”Deixa de ser frouxo, meu filho! Não é nada!!” – E nesse exato momento passaram correndo dois tatus bem próximo dos dois

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“_ Não falei? Aí está. Vamos lá!” – Disse papai, chamando a cachorrada, mas...Nada dos dois obedecerem. Não arredavam pé do lugar. Papai já nervoso falou: ”_ Anda, moleque! – mas até o mano se recusou a sair do lugar. Então, vendo que o medo dos cães e do filho não os deixaria acompanhá-lo, aventurou-se sozinho mata adentro atrás dos dois tatus. Porém, não demorou muito se ouviu um berro de meu pai, que voltou correndo todo esbaforido. Meu irmão, quando viu o pai voltando depois do berro se assustou mais ainda, e dando também um grito saiu correndo, e os dois cães, grunhindo feito loucos, passaram na frente de pai e filho, chegando em casa primeiro. Encontrando a porta fechada, os cães arranhavam a porta desesperados e os homens batiam tão forte na mesma, quase derrubando-a.

“_Odila, abre a porta, anda!” – E mamãe, assustadíssima, escancarou a porta e os dois mais os cães entraram quase atropelando-a, indo os cães esconderem-se debaixo da cama. Assustadíssima mamãe perguntou: _ “O que aconteceu, minha gente?” - E meu mano, bem depressa, aos sobressaltos, respondeu:

_ “É que fiquei co medo, mãe, de adentrar na mata, porque os cães que iam à frente de repente voltaram gritando, assustados, e aí o pai foi sozinho e voltou também gritando e correndo”.

- “Pois é, Odila – disse papai – O Paulo ficou com medo então fui sozinho atrás dos tatus. Quando estava no meio da mata avistei os dois que estavam a cavocar a terra, mas, neste momento me deu um medo danado, um calafrio, e pra piorar a situação os bichos viraram a cabeça, me olhando e foram aumentando de tamanho, crescendo, crescendo como num toque de mágica, e ficaram enormes diante de mim, e foi aí que gritei e saí correndo”.

Mamãe então falou: _ É no que dá caçar o pobre do animalzinho indefeso, inda mais numa data como essa – sexta feira Santa!! Que isso lhes sirva de lição!

E serviu, com certeza!