O direito de sonhar
Diariamente sai bem cedo de casa com a mochila às costas. Dentro leva água e sua marmita com arroz, feijão e duas misturas. Talvez carne, ovo ou algum abafadinho. É gari. Varre as ruas do centro da cidade. Embora seja bem conhecido de moradores e de pessoas que trabalham no comércio perto de onde ele varre, não tem tempo para conversas. É um bom dia bem rápido e só. Tem metas a cumprir e não gosta de atrasar. Banheiro, só em caso extremo.
A rotina diária é rigorosamente a mesma. Sua maneira de controlar é a chegada com o trabalho ao ponto onde costuma almoçar, sempre por volta das 10h30. Ao chegar ajeita o carrinho num canto da calçada e coloca as vassouras no chão. Junto com os demais colegas, tira a marmita, senta ali mesmo, na calçada e come sob os olhares das pessoas que passam. Em seguida, deita-se e tira uma soneca de alguns minutos.
É provável que muitas pessoas que passam por ali, nem percebam o básico. Ou seja, que aqueles trabalhadores que estão almoçando sentados na calçada e tirando uma soneca na sarjeta são seres humanos. Eles pagam todos os impostos que os demais cidadãos pagam e certamente também têm recolhida sua contribuição sindical que vem descontada no hollerit.
Longe da preocupação com o que os outros pensam, o dia prossegue. O objetivo do gari desta história – igual ao de todo trabalhador –, é dar o melhor à família. Por isso, todos os dias ele sai para trabalhar e logo depois do almoço, enquanto tira sua soneca sonha com o que de melhor pode oferecer àqueles a quem ama: moradia, escola, saúde, lazer e uma vida digna aos seus filhos.