GATINHA NA REDE
A tarde se faz amena com alguns pés-de-vento e retardatários chuviscos. Os plátanos dispensam as primeiras folhas e estão rechonchudos os caquis, de cintura marcada. Parecem a gorducha comadre experimentando o vestido de cinco anos de guarda-roupa sem mexer. Haja fôlego pra que venha a servir na cintura... Ouve-se um cochicho, pssssssiu! Dona Redonda, no pátio contíguo, toda faceira (o desejo lhe enrubesce as bochechas), escuta seu maridão chamá-la de “minha gatinha”. E, sob uma chuva de folhagens, aconchegam-se na rede. A cintura não resistiu ao desejo.
– Do livro O AMAR É FÓSFORO, 2013.
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