Um acordar insólito

Você já leu o romance Metamorfose, de Kafka? O personagem acorda um dia e constata que tinha se transformado em uma barata.

No meu caso não foi tão espetacular assim. Mas ao acordar no dia do meu aniversário, ao fazer 74 anos, senti-me um tanto esquisito: algo disse-me que o prazo da minha validade tinha vencido. Foi um pressentimento repentino. E senti uma fragilidade incrível. Aquele mundo que vivi parecia estar desmoronando.

E o passado começou a ser exibido como num filme na memória. Embora minha vida tivesse sido constante contradição, faria tudo diferente se tivesse outra oportunidade. Não que me arrependesse do que fiz. Mas para que ter vivido esses anos todos se não acrescentasse algo mais?

Pelo menos aquele comprometimento não teria mantido com aquele lema. A teimosia de falar: Perco um amigo, mas não perco uma boa piada.

Perdi muitos amigos e as piadas nem sempre foram boas, pois nem sequer lembro delas.

É a conclusão ao chegar nesse patamar da vida. Teria deixado as piadas de lado e empenhado mais em preservar os amigos. Pelo menos, um.

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 09/02/2013
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