O fogo baixo dos bastidores
Sempre tive vontade de escrever sobre o comportamento de certo grupo de pessoas nas empresas, mas a delicadeza do tema e uma espécie de instinto de auto-preservação andaram me puxando o freio de mão. Isso sem contar temer algum grau de leviandade que me traísse face ao desprezo que sempre nutri pelas ditas clãs.
Percebi com o tempo que o sentimento mentor do comportamento de tais pessoas é composto do trinômio: Insegurança, prepotência e a velha e estimulada ambição. Esse trio faz um grande estrago em qualquer grupo. De Igreja a manicômio, mas o ponto alto é o Olympus onde se encontram os empregos, isto é, as entranhas das empresas, até porque o próprio Zeus esta por lá. Se ele é do tipo “quanto mais briga embaixo mais saberei das coisas”, aí é que a briga é de foice!
A Insegurança de determinados elementos é muitas vezes injustificada. Não podemos esquecer que, na dose certa, ela é fundamental à temperança, ao bom senso. Porém à que me refiro é a insegurança nociva. Aquela que leva o inseguro às raias do delírio. Que o permeia com a desconfiança, complexo de concorrência crônico, necessidade de auto afirmar-se constantemente, entre um sem número de neuras. Aí ele se arma dos segredos que não deveria sonegando informações, boicotando os companheiros, denegrindo parceiros e revelando uma face que todos passam a conhecer e detestar, menos os que pensam que lucram com isso. Esse mal acomete pessoas de qualquer idade, sexo, raça ou religião, podendo adicionar temperos característicos oriundos dessas classificações também não trabalhadas. O resultado é uma pessoa multiplamente intrigante e perniciosa.
A prepotência é, antes de tudo, um deslocamento de foco. O apogeu da caipirice do próprio umbigo voltado para uma personalidade desprovida do externo. Normalmente acompanhada da prima grossura, o prepotente é quase sempre mal educado. Como diria o famoso BBB, “faz parte”. Ele é a voz da razão que não se escuta (não escuta a ele mesmo) e muito menos aos outros. Um atributo compensador do prepotente é a arte de ser subserviente e déspota ao mesmo tempo. Só depende do grau hierárquico do interlocutor da ocasião. Péssimo formador de times, mas confortável para os chefes por ser doce com ele e vassalo com os “inimigos” reivindicadores lá de baixo.
A ambição, claro, é no sentido do carreirista. Aquele que vive para transformar seus interesses nos da empresa em que trabalha. O especialista do sincretismo maldito. Quando as pessoas pensam estarem sendo úteis para a empresa estão, na verdade pagando “o quinto” pra ele. Esse portador de ambição doentia tem como companheira de seu atributo a irmã inveja. Tudo pode andar bem para ele até aparecer uma grande idéia que não seja dele. Aí o mundo vem abaixo! O ambicioso procura uma forma de ir à “contra-ofensiva” desencavando golpes baixos que lhe restitua o brilho ofuscado pela idéia inimiga. O ápice da humilhação é ouvir o elogio ao desafeto criativo.
Como nada é suficientemente ruim, pessoas que tem esses pontos como evidentes de suas personalidades, além de integrarem um mesmo grupo, podem possuir em doses variáveis traços uns dos outros. Fica um grupo lindo! Numa visão de auras, formariam um verdadeiro quadro de Dante, o que, considerando os atributos de inteligência a serviço de tais objetivos transforma a convivência num elegante e educado hospício, onde os *Betas tomam suas pílulas da chantagem do desemprego para suportar e não serem postos para fora do admirável mundo civilizado dos empregados.
(*) Últimos na escala dos grupos hierárquicos do livro “Admirável mundo novo” de Aldous Huxley.