HERANÇA FHC



Certo dia, numa manhã de um sábado ou domingo, não me recordo, após sair da rodoviária carregando uma mala cheia de roupas velhas e um sonho novo, caminhava rumo ao ponto de ônibus. Naquela época, havia muitos “trombadinhas”, desses maltrapilhos que vagam pelos centros das grandes cidades. Por azar ou por sorte, vai saber, me deparei com um desses infelizes. Ele olhou nos meus olhos e percebeu que não era dali, que eu era do interior. Engraçado como é possível perceber essas coisas. O trombadinha que estava com sua típica feição de fome e drogas farejou meu medo e partiu para o assalto.

Para quem nunca foi assaltado, era um momento tenso (Tem muita gente que se habituou com crime, que nem tenso fica). Ele veio sorrateiramente em minha direção. Era magro, alto, trajava uma jaqueta verde e bermuda escura, aparentava uns 17 a 19 anos de idade. Veio com as mãos nos bolsos da jaqueta e olhando de um lado para o outro. Eis o assalto:

_Passa o dinheiro senão eu te furo! Anda!

_Calma! (Tirei do bolso uma nota de 10 reais e dei a ele.)

_Passa tudo! Vou furar sua barriga!

Nessa hora senti um frio na barriga, mas me contive. Percebi que ele estava tão nervoso quanto eu, e desconfiei da suposta faca que estaria dentro do bolso.

_Tá bom! Te dou mais dinheiro se me mostrar a faca!

_Passa o dinheiro senão te furo! Já falei!

_Mostre a faca então!

_Passa o dinheiro!!!( já em tom bem irritado.)

_Mostre a faca!

_Vô furar ocê véi! Passa o dinheiro!!!

_Mostre a faca!!!


O trombadinha percebeu que eu não daria mais dinheiro se eu não visse a faca (Baixou o São Tomé!). Como ele não tinha faca nenhuma, foi embora como se nada tivesse acontecido. Mas infelizmente, eu não podia deixar ele ir embora assim. Quem já engoliu muito sapo, chega um dia que, de repente, cospe tudo! Fiquei furioso. Não me perdoaria se eu não fizesse nada. Fiz algo que não se deve fazer: reagi ao assalto. Quando ele virou as costas para mim e foi andando lentamente, tive um impulso de agredi-lo. Corri em direção a ele e dei-lhe um soco bem na nuca. O trombadinha caiu próximo a um ponto de ônibus; caiu duro feito pedra. Mas quem vai entender a raiva? Continuei a socá-lo, até que fui contido pelos transeuntes.

No momento, só pensei em pegar minha mala e ir embora, mas quando olhei para meu polegar direito tive que mudar de ideia. O dedo polegar direito estava luxado; estava caído e torto. Fui ao hospital. Lá chegando, puxaram meu dedo torto e o engessaram até meu pulso.



Análise:

O fato acima ocorreu no início do 1º mandato do ex-presidente Lula. Vivíamos ainda o resquício do governo FHC. Penso que a juventude foi bastante prejudicada no governo de FHC; não havia empregos, estudar era difícil, havia poucos concursos públicos, ou seja, o pobre ficava cada vez mais pobre. Reconheço o que ele fez com a redução da inflação que, aliás, foi a mola mestra para a vitória na reeleição.

Lembro-me de um feito excepcional de FHC; os jornais noticiavam que o povo consumia mais iogurte! Isto era verdade! Minha adolescência se resume a iogurte. Nos dias atuais, não se ouve notícias desse gênero; as pessoas comem de tudo no Brasil, inclusive iogurte. Ampliaram a esmola!

Não contenho a raiva por FHC. Vê-lo na TV causa-me um dejavu desgraçado! Por que FHC não morre? Deve ser porque ele é tão firme como a contenção da inflação. Até hoje a inflação está mantida inabalável; varia muito pouco. E Lula nadou de braçadas nessa onda e se deu bem. O governo Lula viu o povo como consumidor, logo, era preciso inclui-lo no sistema de consumo para aumentar a demanda do comércio e da indústria. Obviamente Lula não pensou nisso, pensaram por ele. Aqueles “pensadores” jamais conseguiriam ser eleitos ao cargo máximo do Brasil pelo povo, pois são antipáticos, sem carisma e de origem rica. Lula é uma marionete que foi induzido a pensar que não é uma marionete; Lula pensa que manipula. Complicado isso!

Em suma, o caso do assalto dá subsídios a algumas reflexões temporais. Entender uma época é compreender do que fomos feitos; muito se familiarizam com a sua própria história. O governo pode influenciar até em nossas raivas. Perigo!!! Não queremos guerra e o governo também não! Voltando ao assalto, que foi verídico, ridículo e cômico, prova que o que não termina em tragédia vira comédia; exceto morte de político corrupto que já é uma piada pronta.