Um texto para Yemanjá

Sou devoto de Yemanjá. Não esqueço do 2 de fevereiro, data reservada à sua homenagem e não deixo reverenciá-la, levando-lhe flores. Este ano não foi diferente. Não fui ao Rio Vermelho, mas cedo me dirigi à floricultura e lhe preparei um buquê dos mais bonitos. Não foi branco, nem azul, suas cores preferidas porque, por incrível que pareça, tamanha é a devoção do povo baiano que não mais havia estoque de rosas brancas nas três floriculturas que visitei. Fui obrigado a me decidir por rosas amarelas matizadas, na certeza de Ela é compreensiva e haveria de me perdoar. Como de fato perdoou, porque logo que depositei o buquê, a alguns metros adiante da praia, as flores submergiram, como que recolhidas por mãos mágicas, desaparecendo nas águas azuladas da Baía de Todos-os-Santos.

Assim devoto meu dia a Yemanjá. Com uma prece, alegria, banho de mar e uma oferenda de flores. Yemanjá, dona do mar, tem dado sinais que frascos de perfume, espelhos e bonecas são do seu agrado, mas poluem o mar e a tradição se adaptou ao ecologicamente correto.

Eu nasci à beira do mar e à beira mar me criei, ouvindo as lendas e as realidades dos mares. Yemanjá, por ser a Rainha do Mar, sereia e mãe de quase todos os orixás, esteve presente na minha formação, encantou a minha infância e tem minha admiração e respeito.

Yemanjá desperta fascínio, acredito que especialmente entre os homens, pela sua formosura, beleza, traços bem delineados, longos cabelos negros e corpo escultural. Não sei se é pecado falar assim da Rainha do Mar, mas sendo tão vaidosa deve admirar os elogios.

Ela está o ano inteiro na lembrança dos devotos e dos pescadores, mas nos meses de verão é mais lembrada e solicitada. Sabendo da sua agenda cheia e muitos pedidos para resolver pendências sentimentais, problemas de saúde e finanças, eu depositei minha oferenda e fui econômico na minha prece. Lembrei de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, pedi paz eterna para os jovens que se foram e força divina para os seus parentes.

É um orgulho ser devoto de Yemanjá. Sou devoto, mas não sei se só regido por ela, o que seria uma benção. Os regidos por Yemanjá são pessoas emotivas, muito ligadas à família e aos amigos. São gentis, costumam tratar todos com distinção e carinho. Não possuem aparência de fortes, mas são dominadores. Também são protetores e ninguém se equivale a eles quando o assunto é ajudar um amigo ou apoiar alguém indefeso.

Yemanjá é a Afrodite da Bahia, é a madrinha do amor. Talvez seja por isto que nas festas em sua homenagem a solidão é caso raro. A companhia surge magicamente.

Este ano fiz a entrega do meu agrado no mar do Corredor da Vitória. Não fui ao festejo no Rio Vermelho, nem à praia da Paciência, porque no ano passado fui alvo de um assalto. Levaram-me os documentos e o dinheiro. Mas Yemanjá é santa. Num segundo bolso estavam os cartões de crédito e a chave do carro. Ela me salvou de voltar a pé para casa! Odoyá, Minha mãe, Rainha do Mar!

Ygor Coelho
Enviado por Ygor Coelho em 08/02/2013
Reeditado em 08/02/2013
Código do texto: T4130362
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