DEVANEIOS
DEVANEIOS
(Crônica de Carlos Freitas)
O firmamento impregnava um ar de magia à quase noite, cingindo-a com o colorido esfuziante de suas estrelas, constelações, cometas e outros astros celestes. Por detrás das nuvens carmins e, como se a mão de Midas a tivesse tocado, a lua, esparge sua luz, tingindo de dourado a copa do arvoredo. Ao longe, ouço os acordes de bem orquestrada sinfonia, resultante dos trinados de múltiplos e minúsculos insetos, enriquecendo o arrebatador sentimento de torpor e felicidade que invade meus sentidos.
Meus olhos, embriagam-se ante tão magnificentes visões. Meu corpo, parece levitar sobre nuvens, tal a leveza que sinto no caminhar. Uma alameda, ricamente ornamentada em ambos os lados por exóticas e coloridas flores, deixa a sensação que estou vivendo um mega delírio, tal o encantamento daquelas plagas. Sinto à minha volta como a afagar-me e dar-me boas vindas, ondas cálidas e envolventes, como se fossem extraordinários seres invisíveis e voláteis. Vejo passar à minha frente cruzando a alameda, um lépido e fanfarrão casal de serelepe, que desaparece em meio às arvores na velocidade de um raio!
Cipós que pendem das altas copas dos arvoredos, servem de trampolim para a exibição esmerada e sincronizada, de um símio com cores excêntricas. Faz seus malabarismos, e os interrompe olhando em minha direção como que a pedir aplausos. Assim o faço. Em meio a esse devaneio mágico, meus ouvidos captam: “... Nos braços de outro tento te esquecer...”, e: “... Why you say good bye to me...”. Ouço o burburinho, qual bálsamo, provocado pelas límpidas águas de um riacho, as quais, como se suicidas fossem - despencam ou se atiram cega e sofregamente logo à frente, num caliginoso, profundo e enigmático grotão. Serão águas passadas... Não voltarão jamais! Sinto garras horrendas e disformes a arrastar-me para as profundezas daquele abismo, enquanto que gentis e sedutoras lavas de um desperto vulcão me regurgitam. Volvo à vida, ou será mera alucinação? Animais silvestres me circundam. Parecem querer iniciar um diálogo! Estão agitados e febris. Vivo o surreal com a intensidade do verdadeiro.
Outra vez meus ouvidos captam frases mansamente trazidas pelo rumor da brisa: “... How can you mend a broken heart...”, e: “... Ouvirias palavras que não me lembro jamais ter dito...”, reavivando na memória lembranças de um passado mui distante, de alguém que partira sem que houvesse a troca de um último olhar, ou, sequer o leve toque das mãos. Não houve despedidas! Foi tudo fulminante... Sofrido... Atroz! Um alguém que jamais percebeu que eu existi. Um alguém que somente eu amei. Um alguém que fez com que me perdesse pelos caminhos... Sinto que tocam meu ombro pedindo que acorde. Havíamos acabado de chegar ao destino.
Percebo então, que acabara de viver um intenso devaneio. Viajando nas asas do meu Inconsciente, minha mente reativara algo, que eu pensava já ter esquecido e apagado do meu passado!