Blues Man
Apesar do costumeiro e largo sorriso, hoje ele iria cantarolar algo que falava a poucos. Observou a fila de sujeitos que marcava as cadeiras do bar e, mesmo com o lugar apinhado, era possível encontrá-los ali, entre bebericadas e suspiros dispendiosos. Pesaroso em seu ofício e com os olhos semicerrados, ele começou a tocar.
As trovarias eram muitas. Em frente ao copo de cerveja, à janela da moça inesquecível, à espreita do acontecido. Independente da forma da lágrima que corria, a emoção de todos absorvia aqueles acordes como uma certeza visceral, uma sensação agarrada de que aquilo, o que quer que tenha sido, havia acabado.
Mesmo intransigente em sua verdade, a música fazia-os respirar. E B. B. King* sabia. Sua hora já havia corrido e ele não seria pago por isso, mas ele continuou... Dois, três, quatro minutos eternos de um aconchego alheio, mas presente. Era preciso. Ele sabia que ao final da última força da última notação, haveria o silêncio. Mas não aquele, digno das almas em suada demasia, e sim o outro, mordaz e infinito, como o amor que finda, não cessa, e cresce sozinho.
*B.B. King - The thrill is gone