O DESPRAZER PELO PRAZER
Recordo-me, na calada da noite, o quanto fui dado a adquirir manias; cacoetes com partes do corpo que, involuntários, por diversas vezes expuseram-me ao ridículo. Vícios incontroláveis que paradoxais nos causam prazer: o quanto era bom repuxar os olhos para cima, para não dizer do agrado em dobrar os lábios, ou dar copinhos seguidos nas nádegas. O que me levava a estalar os dedos das mãos? Não há respostas plausíveis para estas perguntas a não ser o prazer.
Havia certo cidadão na CEF, funcionário de carreira, cujo hábito reputo o mais estranho que vi: lhe percorria involuntário tremelique instantâneo pelo corpo terminando na cabeça, seguido da contratura da face a lhe formar horrenda careta, tal o infeliz estivesse prestes a incorporar entidade desinquieta pulando grudada num fio eletrificado. No final do troço olhava para a gente com a maior naturalidade possível! Coisa de louco!
A primeira vez, cara a cara com o agitado cidadão, aquilo muito me assustou.
Seguramente foi o sestro mais bizarro que vi.
Mas por que o desprazer pelo prazer?
Das coisas estranhas no comportamento humano, as mais bizarras, creio, estão entre as que levam o gênero a buscar o prazer.
Dia desses, certo documentário da TV exibia uma jovem senhora americana, mulher simpática e bom porte, a enfiar o dedo numa das narinas e de lá arrastar o muco comendo-o com deslavada naturalidade.
À volta do fogão, fritava ovos; sistematicamente, com uma das mãos atendia a frigideira e com a outra coletava as “cotias” degustando-as prazerosamente, de tal forma que, daquela loca, o produto fosse infindo. E não para maior surpresa, nas cenas seguintes determinado cientista irlandês aprovava as atitudes da jovem senhora afirmando que a ação fortalecia o sistema imunológico dela, embora a impressão deixada é que o fazia mais por prazer que propriamente para fortalecer coisa alguma.
M. de Assis no célebre As Memórias Póstumas de Brás Cubas, confessa-nos que o personagem considerava as botas apertadas uma das maiores venturas da terra, pois, mortificando os pés, no ato de descalçar o escorchante calçado, permitia o corpo e o espírito mergulhar de imediato no prazeroso lago do alívio! Aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro, dizia o herói.
Mas pequenas manhas ou extravagâncias menores, quais citadas acima, nem supõem frente a de Parsifae, esposa do rei Minos de Creta. A mitologia nos dá conta de que a rainha, na ânsia da busca pelo prazer, fez-se meter num protótipo de madeira, caracterizado uma vaca, e, espontânea, se deixou penetrar pelo touro. Entretanto, esse prazer deve ter lhe custado caro: imaginem o que a rainha deve ter passado por ocasião do parto do rebento, o Minotauro?
E não ouso nem imaginar se o bicho nascesse de chifres desenvolvidos e abertos! Aí sim, veríamos a verdadeira comédia da vida humana.
Havia certo cidadão na CEF, funcionário de carreira, cujo hábito reputo o mais estranho que vi: lhe percorria involuntário tremelique instantâneo pelo corpo terminando na cabeça, seguido da contratura da face a lhe formar horrenda careta, tal o infeliz estivesse prestes a incorporar entidade desinquieta pulando grudada num fio eletrificado. No final do troço olhava para a gente com a maior naturalidade possível! Coisa de louco!
A primeira vez, cara a cara com o agitado cidadão, aquilo muito me assustou.
Seguramente foi o sestro mais bizarro que vi.
Mas por que o desprazer pelo prazer?
Das coisas estranhas no comportamento humano, as mais bizarras, creio, estão entre as que levam o gênero a buscar o prazer.
Dia desses, certo documentário da TV exibia uma jovem senhora americana, mulher simpática e bom porte, a enfiar o dedo numa das narinas e de lá arrastar o muco comendo-o com deslavada naturalidade.
À volta do fogão, fritava ovos; sistematicamente, com uma das mãos atendia a frigideira e com a outra coletava as “cotias” degustando-as prazerosamente, de tal forma que, daquela loca, o produto fosse infindo. E não para maior surpresa, nas cenas seguintes determinado cientista irlandês aprovava as atitudes da jovem senhora afirmando que a ação fortalecia o sistema imunológico dela, embora a impressão deixada é que o fazia mais por prazer que propriamente para fortalecer coisa alguma.
M. de Assis no célebre As Memórias Póstumas de Brás Cubas, confessa-nos que o personagem considerava as botas apertadas uma das maiores venturas da terra, pois, mortificando os pés, no ato de descalçar o escorchante calçado, permitia o corpo e o espírito mergulhar de imediato no prazeroso lago do alívio! Aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro, dizia o herói.
Mas pequenas manhas ou extravagâncias menores, quais citadas acima, nem supõem frente a de Parsifae, esposa do rei Minos de Creta. A mitologia nos dá conta de que a rainha, na ânsia da busca pelo prazer, fez-se meter num protótipo de madeira, caracterizado uma vaca, e, espontânea, se deixou penetrar pelo touro. Entretanto, esse prazer deve ter lhe custado caro: imaginem o que a rainha deve ter passado por ocasião do parto do rebento, o Minotauro?
E não ouso nem imaginar se o bicho nascesse de chifres desenvolvidos e abertos! Aí sim, veríamos a verdadeira comédia da vida humana.