Aquarela
Entre meus guardados encontrei uma velha e linda pintura, uma aquarela, já embolorada pelo tempo e pela reclusão a que fora destinada. Via-se que estava triste e perdera seu viço por se ver longe dos olhos de quem pudesse admirá-la. Afinal esta tinha sido a intenção do artista ao criá-la: que fosse por muitos admirada.
Tentei limpar o bolor que nela se instalara. Pura perda de tempo. Se conseguisse extraí-lo estaria, também, borrando suas cores já tão esmaecidas, quase inexistentes.
Tornei a guardá-la em sua solidão. Protegi-a, desta vez, com uma embalagem que, penso eu, a auxiliaria a resistir aos dissabores do tempo.
Na verdade não sei porque o fiz.