MORRER. MATERIAL E IMATERIAL.

Faz duas semanas um conhecido de muito tempo me consultou sobre sua sucessão. Com vida em comum hoje chamada “união estável”, juntamente com a companheira, sem os selos patrimoniais dos regimes celebrados existentes no casamento. Necessário, como no casamento, comparecer ao cartório para celebrar eventual partilha por morte, respeitados os direitos de herdeiros necessários nominados de “legítima”, porção do monte. Estava próximo de sua casa e chamou a companheira para que ouvisse minhas sugestões.

Encontro-o hoje de novo, forte e na casa dos sessenta e tantos anos. Me sitia com perguntas que a humanidade considera desde que se fez presente no planeta, até mesmo quando era rude.

"Celso, não é possível que iremos “para uma vala”, disse. Estava irresignado, disse “quero ouvir sua fala sobre isso, um colega seu me disse ser ateísta, não quero isso...sou agnóstico."

Ponderei com algumas razões variadas sem tons de verdade ou definitivos, ou crenças pessoais, até mesmo pela busca acentuada a que nos entregamos, todos. E realcei este ponto. Falei da morte que ninguém conhece, só o morto, da criação das entidades fortemente originadas por temor da própria morte, como é crença intelectual de muitas cabeças coroadas, desde Lucrécio, da possibilidade da fé como um “salto no escuro”, mas que pode trazer claridade, e principalmente no ato de podermos sobre isso pensar, só nós como seres da criação, por termos um lado imaterial e não instintivo como os irracionais, o pensamento.

Será que esse lado morre? Perguntei.. Coloquei suas dúvidas agitadas...e destaquei, como crente no que digo, na força física que comanda a criação, o movimento e sua causalidade necessária, a cristianização da lógica de Aristóteles por Tomás de Aquino. Acho que o acalmei um pouco..

O que vai para a vala é material, não conta, disse eu. E não importa se seremos lembrados. Somente como espécie, única, de uma máquina que tem neurônios que elabora o pensamento, QUE NÃO MORRE, É IMATERIAL, já é o bastante. Reflita sobre isso, disse.

Os irracionais desfrutam da beleza, das artes, dos dons do pensamento? Amam, se emocionam, têm saudade, batem forte o coração apressadamente em ocasiões de enlevo? Lógico que não, sobrevivem pelo ato de procriarem, sem Lei Moral, matando para saciar a fome, sem culpas. Não há consciência, virtude ou malfeito, PENSAMENTO, ALMA.

O racional que mata é aberração de origem, embora, em grande escala e em todos os níveis, negue sua virtude da escolha da bondade que o trouxe à vida forrado na inocência da infância. O racional que mata e propaga o mal, em variadas formas, explorando seu semelhantes, não presta, é raiz daninha.

Você fica de alguma forma além dos registros que deixou, não só para quem você é insubstituível, filhos, netos, entes queridos que sempre vão te amar, fica como a folha que cai e amarelece com o consentimento de toda uma árvore, sem o que não cairia, uma árvore que é razão junto com toda a natureza da própria natureza. Vivemos todos a unidade, e essa unidade é eterna.Não se aflija.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 07/02/2013
Reeditado em 12/07/2013
Código do texto: T4128335
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.