SEMENTES DESPRETENSIOSAS
Ouvi falar de um antigo que jamais jogava fora uma semente de árvore frutífera ou de boa madeira. Grãos de milho que caiam dos cochos de animais e as galinhas já de papo cheio desprezavam, ele os recolhia e os plantava em algum lugar protegido dos herbívoros. Mesmo que fosse fora de época, plantava despretensiosamente, algumas cresciam e antes de dar espiga eram comidas pelos bovinos e equinos que enfiavam a cabeça na cerca de arame farpado e as colhiam esticando o beiço. Muitas nem brotavam, pois ficaram em covas de terras inférteis, morriam por falta de chuvas...Mas aquelas que brotavam e espigavam davam boas pamonhas doces, salgadas, curais, bolo de milho.... as árvores davam sombras para o passante, acolhidas para os pássaros, revigoravam corgos soterrados. Sementes despretensiosas.
Um dia conversando com um irmão pelo bate papo do Gmail, vimos que outro estava conectado e despretensiosamente o chamamos para conversar a três. Deu certo, e surgiu a ideia de fazer um grupo na família, que é bem grande, ajuntando os primos. Este grupo foi uma semente despretensiosa, lançada meio sem querer, mas caiu em terra fértil. A grande família, tios e primos sempre foram muito unidos, mas o tempo e a distancia trabalharam contra. Distanciamo-nos. Hoje, mandamos noticias, fotos, conversamos quando estamos conectados. Alguns revelaram o dom da escrita, outros só observam, e o mundo voltou a ficar pequeno, voltamos a sentar nos banquinhos da calçada para conversar. Quando nos encontramos pessoalmente, não existe mais o constrangimento de não saber do novo parceiro, do nome dos filhos, etc.
Começamos entre irmãos, muitos nem sabiam ligar um computador, internet era para os mais jovens...mas ai virou febre, aqueles que se encontravam longe, saudosos, foram chegando, hoje temos muitos primos participando e até tias octogenárias, podendo conversar com a terceira e até quarta geração após a delas. Serviu para comemorarmos vários nascimentos de sobrinhos netos, para confortar nossos entes queridos nas doenças, e a família nos passamentos dos seus entes queridos. Nascimento e morte. De alguma forma é um grupo de oração de agradecimentos e de pedidos de graças, mas principalmente um grupo de relacionamento de amigos.
Vejo pessoas se interagindo lá sem se conhecer fisicamente, avós e netos, tios e sobrinhos. Um dia, quem sabe, faremos um encontro com o pessoal do grupo, fica lançada mais uma semente despretensiosa.
Cada um sabe do seu tempo.
Sementes despretensiosas, lance-as, algumas cairão entre pedras e espinhos, outras servirão de comidas para pássaros, outras em covas rasas, mas aquela que cair na época certa em terra fértil dará frutos.
Beijos