O caixão caiu!
Do interior da van ouvi uma pancada que me assustou. Pareceu-me uma batida de carros. As vozes se alvoroçaram, todo mundo procurando alcançar as janelas(um desafio, porque a lotação é tão grande que mal conseguimos nos mexer). A curiosidade de muitos, inclusive a minha, aumentou ainda mais quando alguém disparou: “é um caixão!” Como assim “um caixão?” eu me perguntei.
E tudo o que eu queria era uma chance de ver com meus próprios olhos o que me pareceu inacreditável.
- Um caixão? Onde?
- Está ali, caído, no meio da pista!
Meu Deus, difícil acreditar! Mas eu vi, e o que posso dizer é que foi, no mínimo, espantoso. Na primeira oportunidade, no embalo da euforia da moça que passava as informações, dei uma inclinada, agachei um pouco pra tentar ver por debaixo das pessoas e constatei o que elas diziam: era mesmo um caixão. Meus pensamentos se desordenaram, comecei a fazer perguntas à moça da janela:
- Caiu de onde?
- Do carro da funerária!
- E cadê esse carro?
Aos poucos se formou uma ligeira confusão no trânsito, já que os veículos tinham que desviar, fazendo uso de uma só via.
Passava por ali uma viatura do Ronda do Quarteirão, que parou para que um policial verificasse o que era aquilo. Até então, uma colega já tinha dito que isso só podia ser "coisa do Sílvio Santos", mas o policial levantou a tampa do caixão e realmente havia nele um cadáver. Descartei a possibilidade da câmera escondida, era muito real, meus olhos viam o caminho de pétalas brancas que se formou no asfalto, próximo ao caixão.
A criatura da janela, que assistia a tudo, fez o sinal da cruz, dizendo que sonharia com aquilo de tão impressionada que estava.
E todos se perguntavam “cadê o carro da funerária?”, “ninguém percebeu a falta da carga?”, “estaria aquele motorista morto, também?”, “não ouviu a pancada?”
Poucos instantes e, voltando do outro lado da avenida, o bendito carro se aproximava para resgatar o corpo. E o trânsito andou, o que me impediu de registrar mais informações desse acontecimento inusitado.
Fiquei tentando imaginar a situação do funcionário da funerária arrumando o cadáver no caixão e colocando-o novamente dentro do carro.
Que loucura!