Se não for amanhã, que seja em breve!

Constrangedor dar-se conta de quantos nãos eu tenho dito. Triste perceber que digo isso até quando quero o contrário. Difícil aceitar que essa negação esteja se tornando um hábito, sem que eu perceba, como um mecanismo falho de autodefesa, enquanto voam as oportunidades. Voam como os passarinhos. Eu que também me adaptei ao fato de não mais falar de mim com as pessoas. Hoje presenciando um momentâneo desânimo de alguém que aprecio, senti as rudezas da minha negação na própria tentativa de trazê-la de volta. Ela me disse com tom de quem brinca com os desencontros: “parece ter uma nuvem sobre a minha cabeça”. Eu respondi rápido: “Então não se preocupe, as nuvens são lindas e com esse calor, uma chuva seria bom”. Ela bem continuou dizendo que eu adorava poetizar as nuvens, mas a verdade é que pra mim elas já são poesias prontas. E foi aí que encontrei a rudeza. Como pode ser que meus ouvidos, sendo os mais próximos da minha boca, não escutam o que venho dizendo? Em que momento eu concluí que dizer não pra tudo iria me proteger de qualquer coisa? Eu não vou acordar amanhã aberta pro mundo e pronta pra ser feliz, principalmente porque eu acreditava que agindo assim ja estaria no caminho certo pra isso. Mas, dia desses, um amigo me disse que eu precisava abrir meu coração pra mim mesma, e hoje sou eu que me olho no espelho e anseio pra me deixar chover e banhar-me de poesia. E que as oportunidades não sumam justamente agora, mas se possível, que venham com um tantinho de coragem. Vou precisar.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 06/02/2013
Reeditado em 06/02/2013
Código do texto: T4126973
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