QUE OLHAR MAIS LOUCO...

QUE OLHAR MAIS LOUCO....

Hoje entrei em uma loja de tecidos.Fui acompanhando uma pessoa querida.

Sempre fui avessa a roupas especialmente confeccionadas para mim: as poucas vezes que frequentei uma “costureira”, senti incômodos torturantes.Era um tal de vestir e tirar, prova aqui prova acolá...

É que o meu senso prático fala mais alto, comprar roupa pronta é mais fácil, e além disso, só visto o que me apaixona, e como poderia saber se iria me apaixonar pela roupa a ser ainda confeccionada? Nunca vivi de futuros, minha respiração só arfa no presente.

E quando ficasse pronto aquilo que seria um belo vestido, eu já teria respirado tantos outros modelos... Já teria me coberto toda com mangas compridas e saias ao tornozelo para esconder-me das minhas inseguranças, ou já teria andado por ai desfilando com aquela transparência que me exibia das células epiteliais até a glândula pineal.(o centro das nossa sensibilidade, a que alguns filósofos denominaram a sede da alma)

E , voltando a loja de tecidos... é claro que eu não sabia o nome de uma peça sequer...

Deixei a minha amiga bem a vontade escolhendo o que ela iria comprar e sai, passeando pela loja ,olhando para o que não via!

Minhas pupilas bateram num tecido cheio de brilhos,em todas as cores e diferentes transparências: tinha lá uma plaquinha com o nome:Organdi.Quase que não desgrudo daquele canto.Da antiguidade à pós modernidade,tudo ali nasceu em mim.

Olhando encantada aquele tecido, indaguei-me sobre a verdade das pessoas, as diferentes formas com que julgam estar sendo transparentes:verdade absoluta, relativa. cômoda, oportuna,?Que tipo de verdade estaria por baixo da transparência, que tão diversificadamente sabia se vestir? Que tipo de verdade? Existiria verdade? Precisava sair dali antes que algum vendedor me perguntasse :quantos metros de organdi, senhora vai querer?

Saí, mas outras inquietações chegaram até a mim...Olhei aquele tecido de cassa branca... e de novo chegaram as perguntas e comparações...Será que a alma da gente também tem esses “buracos” da cassa branca?Será que eles podem significar em nós os “tiros” que levamos, ou os caminhos que interrompemos? Por que o tecido branco dá a sensação de leveza?`Porque o comparei com alma?Será que a alma é mesmo leve?Mesmo sendo transgressora como disse uma peça que assisti, “alma imoral”, ou será que é leve porque é transgressora?E assim fui me perdendo, ou me achando, em devaneios ao olhar as rendas, os cetins e os tafetás...(olha que aula de tecidos...rsrsr)

Da última elucubração saí do local,com o firme propósito de adequar à realidade as minhas percepções .Mas sem dar tempo de me refazer, meus olhos teimosos alvejaram um tecido de aparência mais rústica que não tinha placa. Não me contive e perguntei: que tecido é esse? O vendedor me disse: ah isso é só estopa... Pronto! lá foi de novo voando a minha imaginação, que me fez lembrar com náuseas, os preconceitos absurdos e ignobeis que vejo acontecer fora das lojas de tecidos... que vejo acontecer no mundo dos que pensam que o lado de fora de si não é feito de tecido que se fará roto um dia, sem qualquer brilho ou maciez ...

Conceição Castro
Enviado por Conceição Castro em 06/02/2013
Reeditado em 06/02/2013
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