A EDUCAÇÃO NA MIRA DE UM "ESPECIALISTA" DA REDE GLOBO DE TELEVISÃO (Homenagem ao dia do PROFESSOR)

É incrível como o professor é desvalorizado no Brasil. Se o aluno não vai bem, a culpa é do professor. Não se leva em conta o contexto familiar no qual esse aluno está inserido, e outros tantos. A culpa é mesmo do professor e ponto final! É claro que não descarto as exceções, que existem sim aqueles professores que não têm compromisso com a educação e se transformaram em burocratas da escola, munidos de um programa determinado e sequiosos da miúda aposentadoria. Mas venhamos e convenhamos, a maioria de nossos educadores é composta por profissionais comprometidos com a arte de educar e fazem da profissão um verdadeiro “sacerdócio”!

Todos, provavelmente, assistiram a matéria exibida pela Rede Globo sobre a situação da educação brasileira, e todos compreenderam o recado da matéria: escolas boas, com professores competentes, igual a alunos bons e igualmente competentes. Por outro lado, escolas com baixo índice no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), sendo taxadas pelo jovem especialista em educação, “representante e juiz legal” dos educadores, como mal administradas por seus respectivos diretores, com professores despreparados e com metodologias ineficazes.

O IDEB é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Ele foi criado em 2007 para medir a qualidade de ensino de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do Inep e em taxas de aprovação. Assim, para que o IDEB de uma escola ou rede cresça, é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula.

Penso que não se mede a qualidade e a competência de um professor, baseado em números. É claro que eles são importantes, e essa deve ser uma das metas do professor, mas nem sempre o “herói” da educação consegue operar “milagre”, que é o que se espera dele. Afirmo, sem medo de errar, nesta breve crônica que, o jovem especialista em educação não atentou para o fato de que deve-se levar em conta o contexto sócio histórico em que esses alunos estão inseridos (é claro que existem exceções).

Durante algum tempo, trabalhei como professor de história e geografia em duas escolas de bairros diferentes, numa cidade do interior do Ceará. Minhas aulas tinham como meta a interatividade prática e o paralelo entre fatos passados e a realidade na qual os alunos estavam inseridos. Eu não somente lhes ensinava conteúdo, como também valores. Procurava prepará-los para o mercado de trabalho mas, principalmente, para a vida. Duas escolas, duas realidades distintas. A primeira absorveu minha metodologia não sem esforço, mas logrou êxito, apesar de algumas exceções (alunos determinados a não aprenderem). Numa turma do 8º ano, de vinte e cinco discentes, apenas dois não foram aprovados no final do ano letivo. Já na turma do 9º ano, todos foram aprovados com louvor. A outra escola, no outro extremo da cidade, um lugar infestado de drogas, violência e outros males sociais, o desenvolvimento foi vagaroso, pois os alunos, em sua maioria, se recusavam insistentemente a aprender, causando, em muitos momentos, discórdias entre si e, por conseguinte, falta de atenção nas aulas. Por mais que eu conversasse, fosse amigo, e preparasse com esmero o plano de aula, ouvia de muitos deles que estavam ali obrigados e não desejavam aprender, não importando o que eu fizesse. Alguns deles se desenvolveram, mas em sua maioria, não tinham o apoio familiar, a estrutura socioeconômica e, acreditem, uma alimentação adequada para seu desenvolvimento intelectual. Essa realidade, pude perceber e sentir, na hora da refeição, momento em que seus olhos brilhavam e denotavam sua verdadeira situação.

A realidade é que a família transferiu para o professor a tarefa de educar, aconselhar, transmitir valores, cuidar da saúde física e psíquica. Quando o aluno não aprende a culpa é do professor, mas quando ele entra numa universidade, o mérito é do cursinho preparatório.

O professor, além de trabalhar quarenta horas semanais, leva trabalho para casa e abdica do final de semana para a correção de provas e trabalhos feitos pelos alunos, tempo que deveria ser suficiente na própria escola, mas não é.

Então chega um indivíduo com o título de especialista em educação (ou seria um burocrata da educação, apenas um teórico?) que não compreende o que é estar numa sala de aula de segunda à sexta-feira, tendo como meta imposta pelo governo, aprovar o máximo possível de alunos e ser o redentor de uma educação que está centrada num regime de governo onde ela não é prioridade, dizendo que professor e escola que prestam.

Será que o nobre especialista e outros tantos teóricos da educação pensam ser agradável para o professor quando um aluno não se sobressai? Nesse caso não se observa o esforço descomunal do educador?

Segundo Luiz Araújo, professor da Universidade de Brasília (UNB), é preciso ter um olhar crítico em relação ao resultado do IDEB: “Eu acho que as pessoas leem o Ideb como se ele estivesse dizendo qual é a qualidade que existe nas escolas dos filhos da gente e não é verdade isso aí.

Ele (o Ideb) diz assim: a partir de um teste que apliquei, a partir de um teste que a escola faz, os resultados são esses. Mas ele não fala nada sobre que condições foram estabelecidas. Não posso comparar. Seria injusto eu dizer que é comparável o resultado do Distrito Federal, onde eu moro, com um resultado no Maranhão. Como se o Maranhão fosse pior que o Distrito Federal.

As condições de salário dos professores, de condições de trabalho, de carreira, de condições físicas das escolas, são altamente distintas. As condições socioeconômica dos alunos são completamente distintas”.

Por esse e tantos motivos, o nobre, conceituado e teórico especialista em educação, representante da Rede Globo de Televisão, equivoca-se, quando em rede nacional elogia uns e denigre a imagem de outros, faltando apenas chamá-los de incompetentes. E o mais interessante e intrigante nessa história é que ele ficava apenas algumas horas em cada escola. Então eu pergunto e, ao mesmo tempo questiono: Será que dá para diagnosticar em tão pouco tempo o profissionalismo de um bravo e heroico educador, batendo o martelo como um juiz atroz e absolver ou condenar? Não deveria esse “mestre” da teoria deixar de ser menos teórico e colocar-se por algum tempo no lugar do professor, assumindo salas de aulas lotadas, com alunos de características e personalidades diferentes, trabalhando numa carga horária extenuante, com um salário que mal dá pra sobreviver, e só assim tirar alguma conclusão a respeito de nossos heróis (não os do Big Brother Brasil, do qual com tanto entusiasmo Pedro Bial costuma referir-se) que o governo fadou ao anonimato e ao descrédito?

Após todo esse ritual, qualquer comentário seu talvez possa ser aceito como cunho de verdade. Caso contrário, discordo em grau e número do "brilhante" especialista em educação da Rede Globo.

Julgar, meu nobre “especialista” em educação, é muito fácil quando não se está no problema. Eu quero ver julgar ferido, passando pelo mesmo dilema. Analisar de fora, com uma caneta e um caderno de anotações nas mãos é tarefa fácil, o difícil é ser VERDADEIRAMENTE UM PROFESSOR”!

ROGÉRIO RAMOS
Enviado por ROGÉRIO RAMOS em 06/02/2013
Reeditado em 01/11/2016
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