SACRÁRIO DE LEMBRANÇAS

Sempre digo que saudade é a vontade de ver de novo. Só se sente saudade do que foi bom e significativamente marcou algum momento na vida. Quem não sente saudade não tem biografia. Por isso sei juntar coisas e conquistar pessoas, conservá-las com carinho como relíquias no meu sacrário de lembranças. Guardo objetos vários, livros e discos, sim; e especialmente fotos, elas que registram fatos e perenizam lembranças. Sou um colecionador de coisas; muitas construídas por mim, muitas que me foram dadas por gente de valor. Só se joga fora o que já não tem importância por ter-se tornado imprestável. E esse é o momento em que, muitas vezes, algo substitui alguém, porque este se fez descartável. Então, não vale a pena tê-lo, tampouco lembrá-lo. Varre-se da memória quem a ela quis perturbar. Aí, manda-se para o lixo a coisa; e no coração – sacrário da alma-, guarda-se a pessoa que soube fazer-se querida. É, talvez, o mais terrível crime que se comete: o banimento. Absurda perplexidade é o mal necessário. Mas o mal maior é preservar o que não faz bem. Isto é outro delito, e contra si próprio. Por isso levo a vida a construir coisas, a conquistar pessoas e nelas observar-lhes os valores. Sim, porque vivemos entre pessoas e coisas constatando, não raro, que alguns objetos valem mais do que seus donos. Fora dessa anormalidade a tudo me atenho; a tudo dou atenção, a tudo valorizo, a tudo e a todos guardo. Exceto os que se tornaram exceção.
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LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 06/02/2013
Reeditado em 06/02/2013
Código do texto: T4126082
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