UM DISCURSO DIFERENTE
Um insólito discurso saiu a esmo.
Tinha-se como sábio.
Mas não conseguiu nem mudar seu modo de ser: introdução, desenvolvimento-conclusão.
Às vezes incoerente cambaleava e caía nas sarjetas dos babados formais.
Sem alma, deixava-se muitas vezes à margem de uma sala velha qualquer; pretendia-se assim para chegar a ser subliminar.
Apelativo ao extremo, fazia-se berrante pela melosa ânsia de transformar o ser.
Sua vestimenta lhe caía como uma luva, mas lhe faltava charme, encanto...
Tentou se vestir diferente, desarrumar-se, entrar em um movimento social qualquer que fosse.
Queria-se anárquico: conclusão-desenvolvimento. Mas, só ficou na introdução.
Deixou suas madeixas crescerem em versos esvoaçantes.
Agora se veste à moda da natureza, cultua um jeito, diz ele, “natural de ser”.
Passou a se impressionar quando via algo belo.
Seu argumento-alimento, agora é o vento-acalento, o sol-inspiração, as borboletas-ortográficas, não se pretende mais sábio.
Conforma-se simplesmente em ser.
Não traz consigo em seus bolsos tantos floreios.
Suas vulgares linhas desfilam como as ondas do mar, que encantam sem a pretensão de encantar.
Com tão imensa transformação, o discurso antes letras frias, orgulhou-se humildemente ser-canção.
(05/06/2008).