Crônica sobre uma coisa crônica
Para começo de conversa, reconheço que usar a palavra ‘coisa’ em um texto sobre qualquer tema, não é recomendado por nenhum professor, seja ele da língua portuguesa ou não. Mas abre-se exceção quando se trata de um assunto que há tempo mexe com a opinião pública brasileira.
Auguste de Saint-Hilaire (1779 -1853) naturalista francês com formação em Biologia, percorreu o Brasil entre os anos de 1816 a 1822 e escreveu: “Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”. Saúva, para os leitores mais jovens, é o nome de várias espécies de formigas consideradas uma praga para as lavouras.
“Que país é esse que junta milhões numa marcha gay, outro milhão numa marcha evangélica, muitas centenas a favor da liberação da maconha, mas não se mobiliza contra a corrupção?”- Esse texto foi publicado no jornal Espanhol El País no dia 7 de agosto de 2011 e foi escrito por Juan Arais, correspondente desse jornal no Brasil.
É sobre essa ‘coisa’ que se refere o título. A saúva não acabou com o Brasil.
Mas se ficarmos calados, essa ‘coisa’ chamada corrupção vai. Aliás, moralmente, já está. Instalou-se constitucionalmente. Está morando de graça em todas as instituições da República. Vale lembrar que corrupção não tem cor, nem bandeira, nem ideologia política e é possível encontrá-la nos quatro cantos do mundo, nasceu com Eva que se corrompeu por uma pequena maçã. Mas no Brasil, repito, encontrou morada em palácios.
Corrupção é a verdadeira agente da miséria, da desigualdade social e o ‘anjo negro’ usa todos os expedientes - o amparo da lei e o nome de Deus, inclusive, para alcançar seu intuito. Pior: enquanto houver quem se corrompa, anjos negros se proliferarão.
E as portas da imoralidade estão escancaradamente abertas para o ‘anjos negros’, principalmente na política, que, como se aprende nas escolas, é a arte de gerir o bem comum, mas que passou a ser a arte de chegar ao poder ou muito próximo, em detrimento de quem quer que seja.
“Esse não é um país sério” - Essa frase é atribuída ao presidente Francês Charles de Gaulle quando visitou o Brasil em 1963. O que o levou a assim se pronunciar nunca se soube, um segredo que foi com ele para o túmulo. Mas que ele tinha razão, ah, isso tinha.
Que coisa feia é esse nosso Brasil