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LUTO AO MÉRITO
De “honras ao mérito” andamos cheios, e todos as querem possuir – até sem um pingo para ser mostrado – e elas saltitam, por aí, com a maior desfaçatez do mundo. Quero ver é quem presta luto ao mérito a quem tem méritos para ir à praça e estabelecer-se.
Nesta manhã domingueira, portinha de entrada para mais um dos nossos carnavais, este um corre o olho no jornal que assino só nos fins de semana e lá está, num pé de página, em garrafais: LUTO.
Leio o informe, é o convite missa de 7º dia do falecimento do educador Lauro de Oliveira Lima (1921-2013). Mas não é possível, e o Lauro morreu? Como não me passou isto pelo telão da cabeça, se, modestamente, não sou dos mais desinformados?
Desde os tempos em que a ditadura imperava que consumo notícias, avidamente, e como não vira nem ouvira um pezinho só de comunicador falar do assunto? Mesmo às madrugadas eu dava gasto a tudo quanto fosse noticiário, doido para ver a queda do arbítrio, porque era sempre de madrugada que a “quartelada de abril de 64” fazia, neste País, as maiores atrocidades.
Aprumo o olhar, agora de modo direito, e sem deixar dúvida, e confirmo o infausto ocorrido: o grande Lauro falecera dia 29/01, e a missa será oficiada no próximo dia 06, deste fevereiro, na igreja de São Vicente de Paulo, onde tantos anos a doce e incansável irmã Iolanda (minha instrutora no Curso de Orientador de Aprendizagem) serviu às causas infinitas dos céus.
Deu nos jornais, mas com língua fria, e não vou dizer que a imprensa foi omissa. Os comunicadores da imprensa falada é que falam de Deus e o mundo, mas que, por interesses outros, metem-se de cabeça é no futebol, no enredo das novelas globais, nas fofocas e traições das celebridades, e outras e outras coisas mais e tais.
Morre um b...ta (!) qualquer, nos USA, e a imprensa lasca no ar um estardalhaço de moer a vista e os tímpanos de todo vivente deste gigantesco paraíso de nulidades, mediocridades e futilidades.
Contudo, um educador do porte do Lauro de Oliveira Lima é quase silenciado, ou apenas bocejado. Talvez pelos seus três maiores e únicos defeitos: era brasileiro, nordestino e irreverente. Um gozador dos medíocres.
Dele assisti a uma única palestra, o salão abarrotado, e a gente toda, ali, se divertindo com as tiradas de ironia do Lauro. Língua de fogo, mas educador de primeiríssima linha, não ficava um milímetro aquém de Anísio Teixeira nem mesmo do internacional Paulo Freire.
No decorrer da palestra ouvida, isto em um grande colégio no centro de Fortaleza, após recente lançamento de um dos seus livros (“De Pombal a Passarinho”), o Lauro saiu-se com essa: “O ministro (da Educação, coronel e servidor da ditadura, Jarbas) Passarinho, ao saber da edição desse livro, correu pra ver o que eu botara sobre ele. E contestou: Mas não há uma linha sobre mim?! E eu pus no jornal: O que iria dizer, se você não fez nada”?
Para não torrar mais a paciência de ninguém, nestas mal traçadas de boba crônica sem sal, quero dizer só para Deus e o mundo que, em seu campo de atuação, e se é que Educação neste paraíso terreal tem algum significado, uma opinião muito pessoal e intransferível: o Lauro – vivo estando ou morto, jeitão gozador e meio anarquista – deveria ser aclamado mais de um milhão de vezes do que todas as novelas globais, todos os dribles e gols do Neimar e toda a cobertura que, no Brasil, lá atrás, foi dada à morte de Michael Jackson.
Nem contam, aqui, o empreendedor, o fundador de colégios e várias instituições culturais, o estudioso e aplicador prático de Jean Piaget, o autor de inúmeras obras, nada disto, pois o Lauro foi múltiplo. O que vale realçar é o proscrito pela ditadura, que foi enxotado da inoperância e marasmo do Ministério da Educação, àquela época, sob o tacão ditatorial, e, após tal perversidade, ele roeu um osso até montar estabelecimento modelar de ensino, primeiro no Rio de Janeiro, depois, aqui, na sua terra natal.
Querendo ou não os muito reacionários, que somente o viam como um educador mais para a cor avermelhada, ou anárquica, VIVA O EDUCADOR LAURO DE OLIVEIRA LIMA!
For., 03/02/2013.