NOTÚRNIAS- REMINISCÊNCIAS

Esta noite/madrugada a coisa está confusa.Não sei o que escrever mas preciso escrever.Quero retirar do meu âmago emoções represadas e entorpecidas pelo tempo que tanto mal causam a quem elocubra muito.Relações de neurônios e litium.Nada que um psiquiatra não possa ajudar.Entretanto,a espiral do tempo girou ao contrário e fui parar lá pelos anos 66/67.A cidade em que fui criado era modorrenta e insuportável.Muitos acontecimentos tristes e pesarosos que nem gosto de rememorar.O passado não se consegue apagar,mas que eu tentei,tentei.Viajando no tempo,estamos no final dos anos 60,onde um jovem caipira parte em busca de um contexto para se afirmar,deixando as raízes bem distantes e olhando para o enigmático amanhâ.Revi-me no ambiente da Praça da República com a Ipiranga.Era o point!Era a elegância total,era o *Savoir Vivre* Certa feita,escrevi uma longa crônica sobre este cruzamento que Paulo Vanzolini cantou tão bem.Texto este que perdi ao longo de minhas mudanças.Pena...Como pena me dá ao lembrar-me do Salada Paulista e seu croquete com salada de maionese.Que delícia! A Salada Paulista ficava bem ao lado de um hotel e de um cinema,entre a 24 de Maio e a Av.S.João.Eles serviam junto um molho inglês que deixava mais delicioso o croquete,além de um chope delicioso com *colarinho*alto.Detalhe:os homens entravam sempre engravatados e mulheres elegantemente vestidas..Que bom que eu vivi isso!!! Vivi também o *minestrone*do Giovani,creio que na rua Pedro Américo,entre S.João e República.Custava em torno de 1 real e alimentava jovens insaciáveis de prazer e alimentos.Vivíamos sem dinheiro e sobrevivemos,não sei como.Na praça D.José Gaspar,atrás da Biblioteca Mário de Andrade,há uma galeria que ,nesta época,era reduto da boa música em SP.Á noite,era um vai-vem de pessoas muito bem vestidas e elegantes que transitavam por esta galeria.Me lembro de um local situado na parte mais baixa,quase um subterrâneo:A Mesma Rosa Amarela.Nós,moleques,trabalhávamos na Elevadores Atlas e resolvemos dar um passeio pela agitação do centro. SP era elegante,e nós rapazes incautos viemos compartilhar a noitada paulistana.Saímos do Cambuci lá pelas 7 da noite e fomos em busca de emoções maiores.Quando se é jovem,tudo vale a pena,desde que a alma não seja pequena. Gildo,Zé Carlos,Roberto,Alfredinho e eu.Por onde andarão?Um era descendente de ucranianos da Vila Prudente;outro de italianos da Vila Ema,outro era brasileiro mesmo lá da Vila Carrão,corintiano prá mais de metro.Alfredinho descendia de portugueses,muito educado,era lá da Vila Bertioga.Nós trabalhávamos no Depto.Pessoal da Villares.Seo Alcides era nosso chefe.Linda figura,maravilhosa pessoa.O típico italiano do Cambuci;morava perto do Largo,perto da vida tranquila;funcionário leal e comprometido com a empresa.Nós éramos jovens e queríamos viver.As enchentes do Rio Tamanduateí chegavam até as portas da empresa e a solução era sair de barco!!!,já preparados para emergência.E íamos nós navegando até a altura do Largo do Cambuci que ficava numa posição mais elevada.Meu irmão trabalhava próximo,na Aços Villares,mas nunca me contou sobre destas aventuras náuticas.Bem...essas são saudades melancólicas de um tempo que não existe mais,entretanto,verdadeiras,como verdadeiras são as emoções que sinto ao escrevê-las.Rios da minha infância,águas da minha juventude,mares revoltos ou calmos da minha vida.Tudo são recordações.O que fazer com a vontade de chorar por estas lembranças dos tempos em que comecei a conhecer as magnitude de SP? Zé Roberto,Gildo,Zé Carlos,Alfredinho,fiquem na Paz!Lembranças mil me assolam a alma e me sinto feliz por tê-los conhecido e convivido.Saudades dos tempos em que passávamos a noite em claro acertando os cartões de ponto dos trabalhadores.Passávamos a noite toda acordados na Elevadores Atlas para fazer a folha de pagamento até o dia 5. É doçura pura reviver o croquete do Salada Paulista.É doçura pura reviver os tempos de juventude na Villares,do Colégio Firmino de Proença,todo esse tempo vivido na Moóca e Cambuci.Bem italianíssimo!!! E casei-me com duas portuguesas?!?!?! Incongruências da vida.Elas são pessoas boníssimas e maravilhosas.E agora o que faço comigo neste momento? Apenas oiço o vento da noite e me aquieto no pesar tranquilo de uma vida cheia de fantasias. Fiquem na Paz!

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 03/02/2013
Reeditado em 03/02/2013
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