<> UM GRANDE AMOR <>

UM AMOR (quase) ETERNO.

ATÉ nos detalhes o casal se parecia. Tinham pavor de avião.

Casados há 10 anos eles ainda se beijavam na boca com uma voracidade nupcial. Do serviço ele ligava para Lú com a constância de namorado. E naquele momento estavam voltando de uma segunda lua de mel na Europa, uma década depois. E de mãos entrelaçadas, enquanto eles curtiam, pela janela, a onipotência celeste, tocou um “Plin”, vindo da cabine do comandante: -"Senhores passageiros, dentro de alguns instantes entraremos numa zona de forte turbulência. Solicito que permaneçam assentados com os cintos na posição. O casal tentou conter o pânico que aumentava na mesma proporção da turbulência. Ela desabou num choro contido. Ele afrouxou a gravata e o coração. E diante da morte que eles julgavam iminente, ela quis tirar das entranhas de seu ser, um remorso contido. Queria morrer perdoada. -Tem uma coisa que eu quero te confessar, Carlos. Eu fui amante do Léo. Carlos arregala os olhos, incrédulo. O comandante avisa que uma turbina esquerda pifou, e exigiu : -permaneçam assentados. O pavor agora toma conta de todos. Carlos toma a palavra: Lú, acho que a gente não escapa dessa. É. Também quero morrer de alma limpa. Eu só casei com você pelo dinheiro de seu Pai, de quem já desviei milhões lá da empresa.

-Eu sempre desconfiei Carlos. Eu também só casei com você para arrumar um Pai para o meu filho.

- O Carlos Junior ????

- É. Quando te conheci, eu já estava grávida.

Carlos ficou sem reação. Antes de dizer qualquer coisa, a turbulência aumentou.

-Lú, sabe a Dirce, esposa do seu irmão? Nós somos amantes desde que ela era noiva dele. A nossa casa na praia está em nome dela.O temporal aumenta, e a seguir estoura um raio na janela ao lado deles.

-Carlos, lembra aqueles dólares que sumiram do nosso cofre?

- Lembro.

-Fui eu. Comprei um apartamento para encontros secretos com o Bernardo ?

-Com o Bernardo? O nosso motorista?

- Ele mesmo...

Outro raio mais forte e a tripulação comunica que talvez tenham que tentar um pouso de emergência no Mar. Pavor geral. Todos rezam. Tempos depois de tantas orações, diminuíram os solavancos. “Plin”, o comandante comunica que a turbina voltou a funcionar e a zona de turbulência foi ficando pra trás.

Sete horas depois, silentes e sem troca de olhares -como um albatroz gigante- o avião, desce no sentido oblíquo, e suavemente busca a cabeceira da pista.

Hoje, Carlos e Lú só se falam através de seus advogados que trabalham em cima de dois Processos. Um, do divórcio, o outro contra a Aviação, pedindo uma alta indenização por ter destruído um amor, jurado pra durar por toda a vida...Ou além vida.

mf... 2011