O BANCO DO JARDIM

Ao me sentar no acolhedor banco do parque, as lembranças surgiram.
Meu avô Totó, homem simples e bom, eu diria que a delicadeza, morava na alma de meu avô. Do nada ele tirava alegria, ele via beleza em tudo. Um mundo interior rico, de um espírito que nessa vida distribuiu generosidade, amor, e felicidade com fartura.
Ele adorava estar no seu quintal e jardim, e lá ficar "reinando", como ele gostava de dizer.
Certo dia, logo pela manhã bem cedo, eu ainda aconchegada em minha cama, ouvia o martelo bater sem dó, lá no quintal. Pensei: é meu vô, "reinando", o que será dessa vez?
Alguns dias depois, um banco rústico, feito de velhas madeiras, estava debaixo de um pé de boganville, que teimava em demorar para crescer e florir, o que deixava o meu vô, muito cismado.
Não demorou, para aquele ser o lugar preferido para os  momentos de lazer de toda a família. Até nossa cachorrinha Laika, logo escolheu como seu local favorito, deitar-se debaixo do banco.
Naquele banco, feito pelas mãos de meu avô, tantas risadas alegres demos, tantas conversas soltas que tiveram como confidente a brisa e o pefume das flores do jardim que lhe eram vizinhos. Ele também foi testemunha de muitas lágrimas pelo luto que veio acinzentar nossos corações.
Era comum meu avó, apanhar  laranjas e mexericas do quintal, e ir saborea-las, sentado em seu banco. Nesses momentos, sua voz soava num doce convite, que ainda ecoa em meus ouvidos: "Carmela, Leninha, venham fazer um pique-nique, aqui, debaixo da primavera".
Lembrei-me de algumas fotos que trago bem guardadas, daquele rústico e acolhedor banco, registros de  momentos especiais em família. Não me foi possível usá-las para ilustrar esse texto, pois estão longe do meu alcance no momento. Mas, não distante das minhas lembranças, basta fechar os olhos e vejo, meu querido avô sentado em seu adorado banco, esperando o pé de buganville, florir. Um ano, por fim, as flores despontaram naquele pé de primavera preguiçosa. Ah, nunca vou esquecer a alegria pura de meu vô Totó. A felicidade que sua alma bondosa sentiu ao ver o seu banco coberto de flores da cor de maravilha, foi algo indescritível.
Sentada, no banco do parque, meus olhos brilhavam de doce emoção, e as lágrimas cairam serenas.
Deus, foi muito generoso comigo nessa vida, me presenteou com pessoas de especial valor. Meu avô Totó, foi sem dúvida uma delas.

(foto da autora, Central Park)

Lenapena
Enviado por Lenapena em 02/02/2013
Reeditado em 04/02/2013
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