O fim dos 86 camelos.
Um fazendeiro de Rotfeld, cidade alemã próxima à Stuttgart, mantinha na sua propriedade 89 camelos que eram utilizados para animar festas infantis.
Os animais eram mantidos num grande celeiro e tudo corria bem havia anos.
Até que um incêndio devastou o celeiro. Dá pra imaginar o desespero dos camelos tentando fugir daquele inferno.
Apenas três conseguiram sobreviver.
Pode até parecer irônico, numa semana em que a tragédia de Santa Maria protagonizou todos os noticiários do país, que alguém se prestasse a comentar o fim dos 86 camelos.
Pode até parecer fora de propósito falar de outra dor que não seja das famílias daqueles jovens, cujos caminhos foram decepados brutalmente com a foice sedenta da irresponsabilidade, da ganância, da total falta de respeito pela vida do semelhante.
Afinal todos ficamos petrificados diante dessa brutalidade que teve como cenário a boate Kiss na noite de sábado passado.
A menção desta história dos camelos, real e relatada na página A12 no Estadão de hoje, é para ilustrar que, apesar da magnitude dos fatos ocorridos com nossos irmãos brasileiros, no seu tempo tudo isso corre o sério risco de ser cortejado pelo véu faminto da impunidade, sendo tricotado com veemência pela lábia maquivélica de advogados, que saberão torcer os fatos até virarem pó, traduzindo as evidências do jeito que bem quiserem, ou bem se dispuserem, ou seja lá o que for.
E desse balaio sairão sorrateiramente incautos inocentes que, no enredo original, tinham todas prerrogativas da lei para serem condenados à perpétua detenção.
Mas sabemos que neste querido Brasil, a dor de quem perde um ente querido de forma tão absurda, quase nunca encontrará o contraponto da justiça para reduzir os gritos e latejos alucinantes da sua infinita sangria.
Que sejamos capazes de ver, no curto curso de nossas vidas, que é possível fazer-se prevaler o que é certo, o que é justo, o que deve ser.
Que a ausência pra sempre daqueles 235 jovens sirva pra fazer com que os nossos governantes de plantão tenham a decência para impedir que manobras ardilosas possam confundir a cabeça dos magistrados que terão, por missão, dar o desfecho para os causadores desta tragédia imperdoável e vergonhosa.
A exemplo de tantas outras que tivemos e que, por certo, ainda teremos pela frente só pra horrorizar a nossa alma de um jeito sem fim.
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