SER VELHO OU SER NOVO? EIS A QUESTÃO!
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Supõe-se ser velho pelo azar de nascer no dia 13 de fevereiro do ano de 1960, em uma época que não existia TV em Manaus, todas em preto e branco de válvulas que tinham que ser aquecidas para funcionar; de ser velho por ter sobrevivido e vivido bem em uma época sem telefone que prestasse, rádios ruins e sem FM, que funcionavam com chiados horríveis; de ser velho por ter frequentado a escola e retornado com sandália de dedos no pés, surradas de tanto uso, transportando apenas um lápis, um caderno fino com linhas para cobrir as letras nem sempre bonitas das professoras, uma borracha para apagar as besteiras, uma tabuada para os dias de sabatina uma vez por semana com palmatória na mão para os alunos que perguntavam e não sabiam a resposta, um caderno de caligrafia para “treinar” as letras e outro de desenho para ver se nasceria na marra algum novo pintor holandês Vicent Van Goghi. Ah, então, eu estou um velho!
Mas sinto pena dos jovens de hoje por transportarem para a Escola, mochilas de desenhos cheias de cadernos e livros com figuras coloridas (por sinal, todos caríssimos!) e que pesam quase tanto quanto eles. Isso deve ser massacrante, tanto para as crianças que têm que carregar esse peso de inutilidades da modernidade, como os pais que precisam pagar por livros hoje coloridos, cheios de desenhos para uma “melhor aprendizagem das crianças”. Como fomos capazes de aprender, sem nada disso?
E confesso, sem qualquer vergonha, que quase não sei usar os recursos dos celulares, desconheço mais da metade de tudo de que posso fazer com meu notebook Toshiba vermelhinho. Por isso, talvez, seja chamado de burro. É, então eu sou burro mesmo, mas só para essas novidades tecnológicas modernas!
As provas eram reproduzidas em um mimeógrafo a álcool, a máquina de escrever era da marca Olivetti, o papel para cópia era apenas o carbono e, ainda, se recebia “bolo” de palmatória nas mãos na Escola se errássemos na sabatina de matemática ou em algum ditado! É, acho que estou velho mesmo ou virei um novo-velho e saudosista de 52 anos, demais para lembrar-se dessas coisas? Pode ser isso também! Mas não sei, não tenho certeza e me recuso a tê-la! Isso pode me ser fatal, o excesso de certeza porque “a única coisa que sei é que nada sei”, como se pronunciou o filósofo Sócrates!
Por ouvir dizer e pesquisar na internet em um momento de rara inteligência descobri pelo Google o que aconteceu naquele ano de 1960, quando nasci totalmente nu: um DC 3 da Real Transportes Aéreos e um DC6 da Marinha dos Estados Unidos, chocaram-se sobre o Rio de Janeiro, caíram na Baia da Guanabara e morreram, 66 pessoas; o presidente Juscelino Kubischek declarava a inauguração de Brasília; a Associação Mundial de Boxe proclamava Eder Jofre, campeão mundial de Boxe, ao derrotar em Los Angeles, nos Estados Unidos, o campeão mexicano Eloy Sanchez. Ah, tantas coisas vimos e vivemos e ouvimos falar porque não existia TV, internet, celular, Ipod, essas coisas modernas que os jovens adoram! Ah, também naquele ano, tomamos conhecimento do falecimento do diplomata Osvaldo Aranha!
Mas, saibam, quando um coração se sente velho é porque já viveu demais, acumulou experiência além das necessárias para oferecer aos jovens modernos de hoje e que lhes fazem sofrer, não sabendo o que estão perdendo. Mas, mesmo assim, ainda é possível se retomar à juventude, entendendo a estupidez dos mais jovens e amá-los apesar de eles nos chamarem de “caretas”, “ultrapassados” e que nós “não sabemos de nada”.
As sabatinas nas aulas de matemática eram uma vez por semana, provas eram feitas sem aviso, ditados eram quase todos os dias. Ah, tenho pena dessa juventude moderna de hoje! Entra burra na escola e sai analfabeta da faculdade. Os jovens já nasceram frutos de uma geração do computador, internet, celular...E nós, o que vivemos? Os menores anos de nossas vidas!
É...eu acho que os “jovens”estão mesmo certos: viramos uns caretas, ultrapassados e que não sabemos de nada. Ou será que nascemos no dia, hora e ano errados, fora da história? Mas pelo menos fomos felizes sem essas modernidades de hoje! Ser ou sentir-se velho é poder amar a vida com mais intensidade que só os velhos experientes pelos anos somados de suas vidas, sabem como fazê-lo...Ainda tomo a bênção de meus pais biológicos, ainda vivos! Quase não chamo palavras obscenas – de origem no teatro Grego, com palavras ditas dentro das coxias sem que a platéia as ouvisse. Só quando estou com muita raiva, me ocorre de pronunciá-las por uma agressão verbal sofrida dos “jovens”.
Ser velho ou sentir-se velho é saber apreciar as belezas da vida com mais tranquilidade, mais serenidade os problemas, é saber ouvir boas músicas com letra e melodia, ver o sol com mais intensidade, apreciar a luz e a lua com mais carinho e escrever poemas e sentir o amor que só os poetas são capazes de viver. Se isso é ser velho, estão sou um “velho” apesar de meus 53 anos incompletos. Mas sinto-me jovem para continuar aprendendo e ensinando o que aprendi nas faculdades que cursei e pela vida que levei!
Ser velho é só na cor de prata dos cabelos. Isso é o resultado do tempo que vivemos. Cada cabelo pintado na cor de prata branco é um aprendizado que vivemos. Os cabelos negros que ainda restam, os não pintados em salões de beleza, são os que ainda serão coloridos de prata pelo passar do tempo, com as novas lições de vida nos reserva!
Às vezes, envelhecemos mais ou menos em razão de nossas doenças, internações hospitalares, cirurgias...isso nos pinta rapidamente os cabelos, mas nos mantêm jovens na alma, no coração e no espírito. Esse é meu caso, depois das onze cirurgias a que já me submeti desde 2006 quando fui afastado do trabalho devido a um “empiema cerebral subdural crônico” e nunca mais voltei a desenvolver meu ofício! Mas nasceu em mim um cronista! Não existem velhos; não existem jovens, mas apenas pessoas que viveram mais, aprenderam mais, mas nem sempre essa máxima é verdadeira.